PRANTO DAS ARAUCÁRIAS

O único pinheiro nativo do Brasil, a Araucária, é vista ao longe. Tem postura imponente, do alto está como que vigiando nosso Paraná. Se não bastasse toda sua beleza, nossas Araucárias ainda nos presenteiam todo o ano, no inverno, com o pinhão. Que bom um pinhão sapecado nas grimpas, na chapa do fogão ou cozido. No entanto, em que pese todas estas benevolências das Araucárias, a verdade é que elas estão ressentidas, tem um reclamo a fazer. Devemos ouvi-las em respeito à contribuição que já fizeram para o desenvolvimento do país.

"Dizem elas, já fomos milhões no Sul do Brasil e no início sustentávamos os índios e a fauna. Contribuímos com a madeira, pinhões, até com as grimpas queimadas no fogão do caboclo e na sapeca da erva-mate. Fornecemos madeira para construção de muitos lares para os brasileiros e, inclusive, para os Ingleses quando da construção da estrada de ferro Linha Sul da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, entre 1908 a 1919, que por força contratual de quem a construiu, milhões de nossa espécie foram parar na Inglaterra em forma de tábuas.

No Paraná, fomos milhões de hectares. Entretanto, a atividade madeireira que perdurou algumas décadas, atuou com intensidade suficiente que quase nos extinguiu. Contribuímos com o grande ciclo econômico do Sul do Brasil. O homem ressentido fez lei e proibiu nosso seu corte, salvou nossa espécie. Graças! Pensamos, continuaremos a existir. Que bom o homem ter agido em nosso favor, eis que já havíamos lhe dado tudo o que podíamos. A partir da lei, achávamos que então poderíamos viver em paz.

Ledo engano! O mal aconteceu. Não nos cortam mais, entretanto, não deixam nossos frutos amadurecerem. Tiram nossas pinhas ainda verdes para a venda, os pinhões ainda são “crianças”, tem leite. E o pior, há quem os compre, estes colaboram instigando o mal.

Agora em pleno inverno, daqui de cima observamos a fauna, nossos amigos, lá embaixo, aos nossos pés, nos olhando entristecidos como a dizer: “E OS PINHÕES, NÃO IRÃO DEBULHAR, CAIR, O QUE IREMOS COMER ... ?.” A Gralha Azul, ave símbolo do Paraná, por sua vez faz a pergunta: “E OS PINHÕES ONDE ESTÃO PARA NÓS ENTERRÁ-LOS?”. Como se pode ver, ainda sofremos. Sabemos que o homem fez lei, que tem data prevista para que nossos pinhões sejam vendidos quando maduros, no entanto, o que falta é fiscalização, ou quando não, que o homem tenha consciência do mal que está fazendo tirando as pinhas ainda verdes. Enquanto isto não acontece, só nos resta à esperança de que no próximo inverno possamos ver nossas pinhas em maduro debulhar para alegria e satisfação de todos, DO HOMEM, DA FAUNA e da GRALHA AZUL DO PARANÁ.

É incontroverso, não se tem dúvida, o reclamo das Araucárias é justo, elas têm razão. Precisamos fazer nossa parte não comprando pinhão fora de época, somente quando estiver liberado à compra, eis que assim haverá o tão esperado equilíbrio e todos ficarão satisfeitos. Necessitamos ser mais sensíveis, observar mais a natureza em todos os seus pontos. Ela ensina mais que os livros, ela toca nossa alma, ela foi feita por quem tudo fez.