ATTÍLIO E A FADA DO CARTUM
Pense num cara cético. Pensou? Tá! Esse cara é o Attílio.
Olhava para o espelho ressabiado:
— Sei, sei! Este não sou eu.
E por aí vai. Aos 5 anos desconfiou da “Fada do Dente”. Sua mãe veio com aquela de que para cada dentinho seu deixado sob o travesseiro ganharia um presente.
Belê! “Combinado não é caro”, pensou o garoto Attílio. No primeiro dente, uma bola. Yesssss!! Gostei dessa fada. — pensou o garoto.
Dois dias depois, outro dente mole. PAPUMM! Um skate.
Depois de uma semana, ele estava quase banguela e os pais quase falidos. A “fada do dente” parou de presentear o Attílio.
Não deu outra, jogou no ventilador dizendo que a fada era uma balela, isso e aquilo.
Certo dia, assistiu a um antigo filme da “Jeannie é um gênio”.
Não acreditou e deu de ombros para a geniazinha.
— Onde já se viu, uma fada do dente dentro de uma garrafa.
Nada! Attílio não acreditava em nada. Mula-sem-cabeça, Boitatá, Saci-Pererê, disco voador então… nem pensar. Nem lenda, nem mito; nada.
O tempo passou, Attílio cresceu e virou cartunista. Um cético cartunista. Morava em uma casa de bairro, e todas as tardes sua mãe recebia a visita de uma amiga para tagarelar. E sempre que vinha trazia a filha, feia que nem o capeta.
A garota babava pelos desenhos de Attílio e dizia que ele era o homem de sua vida. E não é que numa tarde o demo arrebitou o bico pedindo a ele um beijo de novela? Por pouco que o pior não aconteceu. No dia seguinte ele olhou pela janela e viu a vizinha chegando, de novo, com a filha; aquela mala sem alça. Bateu o pânico.
Jurou que se tivesse uma fada qualquer, tipo a do dente da época de criança, ele acreditaria. Dito isto, ouviu uma voz:
— Quer se esconder dela?
— EITA! Quem falou isso?
— Eu! A fada do cartum.
— Ah! Ah! Ah! Que bobagem! Nunca acreditei em fada do dente, e não é agora que acreditarei em fada do cartum.
Foi então que o rapaz ouviu a voz da garota dizendo pra mãe que subiria pra ver os desenhos do Attílio. Ela vinha decidida a dar um beijo de novela nele. “É hoje”, pensava enquanto subia. Armou o bico e veio em direção ao quarto onde ele desenhava.
— Ué, Dona Marta, cadê o Attílio?
— Não está aí? Respondeu a mãe do rapaz.
— Não! Só tem os lápis, pincéis, papéis e seus desenhos. Foi quando ela parou sobre a prancheta e viu um desenho com uma caricatura de seu sonho maluco, o Attílio cartunista, que no desenho a olhava assustado, entuchado no meio de outros personagens. Ela riu, quase engasgando.
— Nossa, — pensou — ele é o máximo! Fez uma carica de si mesmo que parece real.
E frustrada, foi embora com a mãe, para nunca mais voltar. Mudaram-se para o nordeste. Naquele dia, após a saída da garota, a fada do cartum fez um sinal com sua varinha de condão e rematerializou Attílio.
— CARAAACA, fada! Você é massa mesmo!
— Viu?! E ela vinha decidida: dessa vez ela queria mesmo era um beijo de língua.
— ECA! E você me colocou no cartum, salvando a minha pele, digo, meu bico!
— Eh! Eh! Eh! Pois saiba que eu era sua fada do dente, e você nunca deu bola. Até lhe presenteei com uma.
E assim, a fada sumiu, não deixando sequer o ZAP pro Attílio. Mas ele não perdeu a fé e torce pela volta da fada do cartum.
Hoje em dia, ele passou a acreditar em tudo: sereia (só as gostosas), duende da maçã, ET… e toda vez que pinta perrengue, acaba chamando por ela. Acredite se quiser.