PEQUENOS HÁBITOS GRANDES MUDANÇAS

A última vez que eu me mudei de cidade foi no final de 2017. Era um momento de virada muito especial: novos objetivos, planos e sonhos. Eu não tinha mais intenção de mudar, mas a chegada da pandemia trouxe o inesperado. E lá fui eu de novo.

Comecei pela cozinha. A respeitável montanha que ocupava a pia se tornou uma planície. Claro que eu ainda carrego o estilo ioiô. Transfiro toda a preguiça para o frio e uso uma bela desculpa. É só até amanhã.

Às vezes, o amanhã demora a chegar. Mas ele chega. Hoje por exemplo, meu futuro se antecipou. Daqui da sala, admiro a maravilhosa vista. Nem uma colherinha dentro da pia. Que beleza. Até quando vai durar esta paisagem sem montanhas, só Deus sabe.

Com a mudança, veio o amor incondicional pelas panelas. Nunca pensei que eu fosse gostar tanto de cozinhar. O cardápio não varia muito, mas estou deveras feliz em ver que nem só de sanduíche vive esta confinada. E mais feliz ainda fico quando percebo que puxei à minha mãe quando se trata de inventar e aproveitar os alimentos.

Eu só não tinha a intenção de deixar minhas madeixas mais longas. Quem me conhece sabe que adoro meu cabelo mais curto. E eu mesma cortar minhas tranças de Rapunzel está por enquanto fora de cogitação. Pode dar ruim. Melhor esperar passar tudo isso. Se eu mudar de ideia, todo o mundo vai notar bem rápido.

Não consegui perder a mania de colocar o despertador na soneca ou de trancar o alarme e dormir de novo. Muito já perdi o ônibus por causa deste mau hábito. Aqui entra o amanhã de novo. Amanhã eu deito mais cedo para conseguir me levantar na hora. Se alguém tiver alguma sugestão, por favor me avise.

Ainda bem que eu consegui usar mais minha agenda esta semana. Cumpri rigorosamente todos os compromissos anotados. Até que enfim. Há algo diferente no ar. Um ato tão pequeno me faz sentir tão grande. A leve sensação de mudança. Mudou também minha pró-atividade na área da escrita. Já não era sem tempo. Mais do que nunca, preciso produzir.

O bom de tudo é que não fui só eu que mudei. Muitas pessoas também mudaram. Está acontecendo uma leitura interior. Famílias estão aproveitando para se conhecerem melhor. O celular está sendo bem aproveitado para videochamadas ou para gravação de vídeos. E só. Estamos aprendendo, ainda que forçosamente, a esperar.

Dizem que há males que vêm para o bem. Eu já prefiro pensar que tem malas que vêm para trem. E são malas com alça. Porque de mala sem alça, chega eu. Taí uma boa oportunidade de mudar.