*A morte já existia entes da pandemia
A morte e a vida já existiam antes da pandemia.
Eu vi nascer a caneta esferográfica e, lamentavelmente, vi morrer a caneta (ainda tenho algumas) tinteiro.
Vi morrer a máquina de calcular mecânica Facit, as réguas de cálculos e vi nascer as calculadoras eletrônicas à pilhas.
Vi nascer e morrer o disco (Lp) longe play , também chamado de vinil, como vi morrer os anteriores de 78 rotações.
Vi nascer e morrer o mimeógrafo e assisti o funeral das máquinas de datilografias.
Vi nascer rádio transistorizado, assim com vi nascer e morrer a fita cassetete, o vídeo cassete, o disquete e locadoras.
Vi semáforo passar de manual a automático e caminhão à manivela ganhar motor de partida.
Lamentavelmente, vi a morte do cinemascope em película e os filmes de máquinas fotográficas bateram as botas.
Morreu o cinema mudo do Gordo e o Magro.
Vi desapareceu a lança perfume, o mascate que vendia talco, água de cheiro num jumento de porta em porta.
Vi desaparecer a brilhantina e também os amoladores de facas itinerantes.
Vi quando chegaram e desapareceram as calças Lee, Ustop e as pantalonas, bem como o tergal, o nycron, as camisas Bonllon, Volta ao Mundo e saias plissadas.
Também vi quando se foram os tênis kichutes, os congas, os sete vidas, o sapato Vulcabrás, o cavalo de aço e Passo Dobles,
Vi quando nascerem as sandálias havaianas e quando morrerem os tamancos de madeira.
Vi nascer e morrer o Iê Iê Iê, a Tropicália e a Bossa Nova.
Vi quando se acabaram as bolas de meias e o futebol de rua.
Vi quando os meninos que vendiam pirulitos numa tábua de buracos e cavaco japonês também se foram.
Vi desaparecer o papel carbono, quadro negro e giz,
Vi morrer o Código Morse e o macaco "chicão" ser trocado pelo macaco hidráulico.
Vi morrerem as profissões de radiotelegrafista, de ascesoristas, de alfaiate, de lanterninha de cinema e até de padeiro e leiteiro que vendiam de porta em porta,
Vi nascerem os pratos colorex e duralex, os copos e talheres descartáveis, as garrafas térmicas, o fogão a gás e gás de fogão, o forno micro-ondas, a panela de pressão e as garrafas plásticas.
Vi quando se acabaram os pontos de aluguéis de bicicletas.
Deixou saudades o teodolito.
Vi nascer o fio dental de boca e o de bunda, a asa delta do céu e o de bunda.
Deixaram saudades as Missas celebradas em Latim.
Vi nascer e morrer o polioxibenzimetilenglicolanidrido*.
Vi quando chegou o ar condicionado e o telefone celular e quando morreu a TV portátil VHF/UHF.
Via nascer a linha de nylon de pescar e vi quando esticaram as canelas a saudosa Maria Fumaça e o ônibus jardineiras.
Vi nascerem e morrerem o caminhão FNM, o fusca e a Kombe.
Vi desaparecerem os vapores dos rios navegáveis.
Vi morrer o relógio de algibeira à corda, o relógio de pulso mecânico com 18 rubis e os carrilhões de paredes. E vi também quando nascerem os digitais.
Vi nascimento e a morte dos orelhões.
Vi morrer o Reporter Esso e o Reporter Corisco da Rádio Difusora de Teresina.
Vi nascerem e morrerem as empresa aéreas Varig, Vasp e Transbrasil e vi quando se foram a Real e Aerovias.
Desgraçadamente, vi o Hino Nacional deixar de ser cantado nas escolas e nascer o desrespeito aos professores.
. Pois é, a morte já existia bem antes do coronavírus.
*polioxibenzimetilenglicolanidrido = baquelite.
Se você não sabe o que é nem um, nem outro, ai danou-se tudo mesmo!