Livros
Eu hoje joguei muito livros fora.
Doeu. doeu muito, foi como livrar-me de uma parte de mim, de uma parte que essencialmente me fez ser assim, para o bem e o mal.
Não tinha mais espaço, eles já estavam impedindo minha locomoção e se empilhavam a esmo de uma forma complicada de acessá-los quando queria.
Não é brincadeira, lembro de todos e verti (não literalmente mas quase) pelo menos uma lágrima antes de me despedir de cada um.
Abri espaço para novos que virão, mas não serão substitutos e sim aquisições para minha essência, mais camadas para o meu ser, sem desprezar as anteriores, sem fagocitá-las, sem eliminá-las.
Cada página foi um ponto na estrada que me trouxe até aqui. Conhecimentos diferentes, autores distintos, ficção e não ficção, terror, fantasia, filosofia, tantas vertentes ....
Queria ter mais espaço para mante-los na casa, mais espaço em mim para absorve-los melhor. Queria viver rodeado de livros ao meu redor.
Na verdade, os livros são essenciais, pois podem me tirar tudo, casa, emprego, família, mas não o que sou, o meu conhecimento, o que adquiri e me molda.
Que eles sigam seus caminhos e cheguem a quem deveriam chegar, façam o seu Tao e vivenciem seu Karma.
Pensando melhor, eu não os descartei, abri mão em prol de outros que precisavam deles, fui altruísta (melhor pensar assim, não ?), de que serviam escondidos e presos num egoísmo acumulador , um breve carinho no meu ego de dono de uma imensa biblioteca ? Eles precisam seguir, espargir seus conteúdos, divulgar cultura.
Agradeço a eles, não por serviços prestados, seria frio demais e sim pela amizade, pelo companheirismo mostrado na noites solitárias, pelos conselhos, explícitos ou velados e pelos sonhos que me proporcionaram.
Um brinde a cada autor, a cada editor que em cada obra promove um imenso gesto de Amor.
Um brinde a todos que se foram e aos que virão, a mim que os desfrutou e aos que os lerão, um brinde a todo e qualquer conhecimento, que nunca, absolutamente nunca é vão.