O cinema do padre

Lá pelos meus seis ou sete anos em Jaú, época em que o domingo era um dia especial para mim, tinha uma rotina a ser cumprida que começava com a missa das oito na igreja matriz, feita especialmente para as crianças.

Após a missa íamos direto para as aulas de catecismo que aconteciam bem próximo,

no prédio da esquina, ao lado da casa paroquial.

Quem participasse das aulas até o final, tinha lugar garantido no cinema do Padre Serra. O Padre Serra era irmão de Dom Rui Serra, Bispo da região que por muitos anos e se me lembro bem, tinha a sua sede em São Carlos.

Ele já tinha bastante idade na época, mas era astuto ao preparar todo um o esquema de segurança para que a norma fosse cumprida.

Ele e seus assessores formavam um corredor entre um prédio e outro para evitar os espertinhos que queriam entrar na sala de projeção sem ter ido às aulas de religião.

A verdade é que o esquema funcionava, e não soube de ninguém que tenha conseguido burlá-lo.

O cinema, logicamente, era bem modesto. Ao Entrar havia um salão grande e à direita as arquibancadas de tábuas de madeira que não sei até que ponto eram seguras para receber tantos garotos que se acotovelavam na entrada.

No programa tinha de tudo um pouco, desde um seriado de faroeste, aventuras do gordo e o magro e os clássicos de futebol, com os famosos filmes do canal 100, geralmente mostrando futebol carioca.

Os recursos técnicos eram precários. Era muito comum, quase uma constante, no meio da projeção, o filme ser queimado pelo calor da lâmpada da máquina de projeção quando todos ficavam no escuro, mas isto só servia para tornar a festa ainda melhor, com o clássico o coro: uuuuuuuuuuuuu!! Além de muita gozação em cima do Padre Serra.

No intervalo, o espaço ficava aberto para as trocas de figurinhas e gibis. Eu sempre marcava presença com a minha mala de revistas. Era assim que, o domingo era aguardado sempre com muita ansiedade, tendo como uma das suas principais atrações o Cinema do Padre Serra.

Luiz A. G. Peixoto – Em: “Minhas Memórias”

luiz peixoto
Enviado por luiz peixoto em 11/11/2005
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