*Liberté, Égualité, Fraternité.

Liberté, Égualité, Fraternité

Este é o maior símbolo que a deslavada hipocrisia universal poderia adotar como lema.

Na bucha, eu nem pretendo falar da Revolução Francesa, para não incorrer no risco de mandar Emmanuel Macron e Renaud Lavillenie se lasqué.

Todos os regimes de governo do mundo prometem isso e muito mais. Até mesmo os regimes repressivos prometem o melhor e até executam para “os seus”.

Em todos os cantos e recantos da societé, existe hierarquia e em havendo hierarquia, existem castas, apartheids e esses fundamentos logo desaparecem. Os muros são de vidros blindados, as máscaras transparentes, todos se conhecem e aceitam. Em alguns lugares, como no S.T.F., causa nojo. Uma advogada já chegou a ser repreendida em plenário, pelo Ministro Marco Aurélio Mello, segundo este, por falta de liturgia. Não aceitou o tratamento informal: vocês. No mínimo, teria que ser Vossas Magnânimas Altezas Imperiais.

Apregoar censura nunca mais é desconhecer o mais superficial do cotidiano. Existem censuras e regras com códigos, parágrafos, incisos e até palmatórias. Não há como olvidar isso e, em alguns casos, foge a um raciocínio leve.

Quando entrei para trabalhar numa empresa do campo petrolífero de Carmópolis-SE, eu era o mais novo contratado e ainda em período de adaptação.

Era uma empresa pequena, talvez não tivesse cinquenta funcionários e a impressão que eu tinha era de que todos andavam pisando macio, com medo de demissão. Nesses casos, é comum aparecer um “dedo duro” ou “puxa saco”, encarregado de fazer picuinhas à sorrelfa. De minha parte, nunca tive receio de perder emprego, todavia isso não é algo agradável pra ninguém. Mas um dia…

No escritório da empresa, só havia um banheiro que tinha entrada e saída para a rua, sem ligação alguma com a área interna. Não havia placa ou aviso de exclusividade, por isso eu o usava regularmente.

Numa dessas, quando fui saindo, fui surpreendido por um auxiliar de escritório que me desferiu uma reprimenda calorosa. Fiquei estático pelo estardalhaço e a minha consciência me traía. Pelo teor da gravidade, cheguei a pensar que tivesse sido eu o autor do disparo contra o Papa João Paulo II, que acabara de ser descoberto.

– Cara, você é louco? Você não está vendo que esse é o banheiro do doutor Júlio César?

Para me defender, perguntei onde estava escrito aquilo, pois na porta, não havia indicação alguma e ninguém me passara tal informação. A resposta foi que todo mundo sabia. Foi aí que me lembrei de minha mãe: “Você não é todo mundo, ouviu bem?”

Eu ainda não conhecia Júlio César, mas pensei logo naquele do Triunvirato e concluí que fezes iriam feder. Como eu não via motivos para tanta chateação, disse, à guisa de gozação, que se o meu número 2 não pudesse ficar no mesmo depósito que o número 2 do doutor, que fizessem um banheiro para o meu uso.

Naquela época, ainda não existia essa nomenclatura aritmética de número 1 e 2 que, em linguagem de hoje, também está errada. Deveria ser: líquido, para o número 1; sólido ou pastoso, para o número 2; e gasoso, para o que falta. Por isso, falei no português da plebe ignara.

Vixi, pra que falei isso? Foi aí que fedeu de vez…

Bem, no fim das contas, não deu em nada, mas me ficou uma lição.

Numa société d'elité, até os excrementos têm prioridades na escala de valores. Quem engole café com farinha, farofa com feijão e bebe água de torneira não pode nem por engano ter seus dejetos intestinais misturados com os que têm um diploma no umbigo e uma coroa de imperador na careca. Então, não venham pra “cima de moi”com essa farsa de um mundo mais fraterno, igualitário e livre.

#Prontofalei.