O limite da amizade: conto de um causo real

Na virada do ano passado recepcionei algumas pessoas de meu círculo para uma confraternização num sítio de família. Se não me engano, estavam nove pessoas presentes. Passamos dois dias no sítio. No segundo dia, em determinado momento na parte da manhã, a prosa era pautada sobre a amizade. Os presentes se espantaram quando eu disse que não considerava que todos nós ali éramos amigos. No máximo a amizade poderia ser rotulada de amizade de ocasião. Argumentei, dei exemplos, porém, não consegui convencer. Mas tudo foi de forma muito amistosa.

Cerca de duas horas após o almoço, um dos presentes, que inclusive foi contra a minha teoria, reclamou da necessidade de ir embora. Relatou que a esposa, estava angustiada e preocupada com o excesso de choro da filha, bebê de apenas dois meses. Prontamente me dispus a levá-los para a casa. Como eu era o anfitrião, os outros tentaram me convencer de que dava para esperar mais um pouco, pois dentro de duas horas todos iriam para as suas casas. Eu disse que eles poderiam ficar, que apenas fechassem o sítio. Insistiram que o casal e sua filhinha poderiam esperar um pouco. A alegação era de que só iam primeiro acabar com a cerveja no freezer. O pai da bebêzinha se viu vencido e a sua esposa não se posicionava por ser menos íntima na turma. Resultado: levantei-me da mesa, peguei algumas coisas, e chamei o casal. Afligia a mim a possibilidade do bebê precisar de alguma intervenção em saúde e ali eu sem nada para ser oferecido. E aqueles que defendiam a amizade sincera entre os ali presentes, preocupados estavam em não deixar de ser tomada até a última cerveja. Nem as mulheres foram sensíveis perante a situação. É que no imaginário, pensava eu, que por identificação, haveria comoção por uma criança que chora e uma mãe que se angustia.

Em suma. É assim! o limite da amizade sincera pode ser: até o ponto de não atrapalhar de toma a cerveja toda em paz.

Trata-se de uma generalização perigosa, mas, instigo à reflexão.