ENCRENCAS CORONAVIRULENTAS

Dona Matilde e seu marido Alonso viviam tranquilamente no seu pedacinho de terra, no lugar chamado Lagoa Verde, zona rural de Porto Raso. Aposentados, com os filhos já casados e morando fora.

No final de semana, iam à missa na cidade, geralmente aos domingos, de manhã. No meio da semana, Alonso voltava à cidade para fazer compras.

Numa quarta-feira, à tarde, foi fazer compras, e como estava demorando a voltar, causou certa preocupação à sua esposa.

Naquele dia, quando chegou à cidade, o comentário era um só. Estava alastrando por toda a região uma doença que o povo chamava de coronavírus, e que já estava causando até mortes em alguns lugares. Alonso, ouvindo aquilo, ficou muito preocupado, pois ao chegar à cidade observou que algumas pessoas estavam com um pedaço de pano amarrado na boca que cobria também o nariz. No início, ele pensou tratar-se de caxumba ou dor de dentes. Depois, ficou sabendo que era uma máscara que não deixava as pessoas se contaminar com o tal virus.

Como todos estavam indo ao Posto de Saúde para se informar melhor, ele fez o mesmo. Lá, foi informado sobre as precauções para evitar o contágio, e recebeu duas máscaras para serem usadas por ele e a mulher. A enfermeira colocou-lhe uma das máscaras e disse-lhe para só tirá-la quando chegasse em casa.

Assim ele fez. Saindo dali, foi fazer as compras, sempre com a máscara. Ele demorou a chegar em casa, pois com todas as pessoas que ele encontrou pelo caminho, teve que parar para contar o que estava acontecendo. Até o seu afilhado, passando por ele na rua, assim que o viu, saiu em desabalada carreira. Quando Alonso chegou em casa, já eram quase oito horas da noite.

Assim que a sua esposa ouviu o barulho da porteira que dava entrada ao terreiro, deu um “graças a Deus” e abriu um pouquinho a janela, para ver se, de fato, era o seu marido que chegava. Ela quase desmaiou com o que viu: um homem encapuzado! Só poderia ser um ladrão, pois ultimamente estavam ocorrendo vários assaltos na região.

Como o vizinho mais próximo ficava a uns duzentos metros, ela começou a gritar pedindo socorro:- Acudam-me! Ladrão!

Alonso, que não era de muita coragem, ao ouvir os gritos correu para o meio do canavial que ficava próximo ao terreiro, pensando que o ladrão estivesse dentro de casa.

Cacildo, um vizinho que morava um pouco mais longe, ao ouvir os gritos da Matilde, tomou logo uma providência:- começou a soltar foguetes, pois conforme havia sido combinado com os outros seis vizinhos, se alguém desconfiasse de um assalto teria que soltar foguetes avisando aos outros, pois todos tinham foguetes em casa.

Os outros moradores ao ouvirem os fogos ainda ficaram na dúvida, pois Cacildo era atleticano e o seu time jogaria naquela noite. Depois verificaram que o jogo seria às nove horas, e pouco passava das oito. Aí, todos começaram a soltar foguetes. Foi uma barulhada, fogos estourando e a cachorrada latindo.

Matilde, dentro de casa, parou de gritar, pois tinha a certeza de que, após aquele barulhão, o ladrão já teria fugido. Alonso, no canavial, resolveu esperar que o pessoal chegasse para socorrê-lo.

Dentro de pouco tempo, os vizinhos chegaram armados de espingardas, garruchas e foices. Começaram a atirar, na esperança do ladrão tentar fugir.

Até que um dos vizinhos teve uma idéia: - Vamos atirar no meio do canavial, pois talvez ele já tenha saído da casa e se escondido lá.

O Alonso ao ouvir isso, gritou:- Não atirem. Eu estou aqui!

Eles reconheceram a voz do Alonso e foram ao seu encontro.

Você viu o ladrão? Perguntaram-lhe. Acho que ele fugiu, respondeu o Alonso.

Nessa altura, Matilde abriu a janela e vendo o Alonso ficou um pouco desconfiada, pois a sua roupa era igual a do ladrão. Quando ela o ouviu dizer que estava com uma máscara e explicou para o pessoal o motivo de usá-la, a Matilde não teve mais dúvida: quem ela pensava ser o ladrão, era o seu marido. Ela contou tudo e o pessoal caiu na risada...

Para compensar o susto, Matilde convidou todos a entrarem em sua casa, e ofereceu-lhes um saboroso café...

Murilo Vidigal Carneiro

Calambau, 04 de julho de 2020

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Enviado por murilo de calambau em 20/07/2020
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