Troço/traça/troça/traço _ Traços da vida

Troço/traça/troça/traço

Traços da vida

A vida, sei lá das quantas, nos cobra das suas páginas, de seus deveres, das suas lições, das suas imposições sempre à sua maneira com extremo rigor. E não podemos fugir, exigir, demonstrar o que gostaríamos que fosse nas nossas migalhas suplicantes, de pecaminosas gestantes próximas a dar à luz a seus minguados e inocentes rebentos. Ou seríamos apenas seus seres errantes? Aqueles que nem sabem se são, ou não, gente? Maldita idéia que nos põe de cabelos em pé, de quatro feito moldados artefatos que só respiram ares alheios, que se perpetuam em seus devaneios, porque assim como estão, estarão sempre estupefatos, feitos incógnitos macacos que se ludibriam em bandos, vivendo vidas de desenganos, sem metas, sem horizontes, sem rimas e sem poesias que os façam sonhar irrealidades e viver a vida sem tons, cores e claridades que realcem suas inutilidades ...

E assim viramos troços tão predestinados a sermos trastes constantes e gritantes de não sermos mais nada.que emergem de sonhos, de emoções que nos conduziriam sempre a viver de ilusões, como se a vida fosse somente bombocados apetitosos, metas até espalhafatosas, amores gostosos que nos conduziriam ao ápice de todas os prazeres, com corações ao alto, pedintes de um sem querer o que, mas desejosos de tanto querer. Ah! Aqueles troços de vida, as vezes tão bem divididas, tão lindamente mentidas que pensamos que verdade seria para nos ludibriarmos de alma e coração nesse empreendimento de sonhos e de paixão!!! Se nos transformarmos em troços somos mesmo um troço de vida na tentativa de luta vencida, com tamanha exaustão. Seríamos mesmo troços? Troços que se acotovelam em si mesmo na expectativa de vencer as guerrilhas do dia a dia, sem espadas, sem armas, sem munição, mas mesmo assimn tentamos sair dos troços, para não virarmos só traças...

Traças? Não seria pior? Sendo assim nada nos restaria desta farsa, desta intriga para virarmos direto pós de uma vida, carcomida, fendida, sofrida, vencida e desiludida. Traças da vida, que tristeza da alma perdida, da alma de amorfas visões, de destemidos fracassos, das índoles aos pedaços, dos amores sumidos, despedaçados e desiludidos.Virarmos traças, que sentido desolador! Nos ímpios do destemor, nos vencidos imensa dor!! Triste metamorfose que a vida nos joga às traças, com soluços, sem vida e sem sonhos. Tudo se esfumaça...

E gargalhamos embrutecidas, dementes como anedotas de risos e chacotas, de trotes que para ter suas funções nos embriagamos com suas seduções, de rirmos e gargalharmos como imbecís, ao nos drogarmos de falsas alegrias, das eternas folias que se aventuram a nos seguir e falsear as ilusões nas rimas com seus senões e vida com seus botões. É a troça a nos assaltar, para rirmos à bandeiras despregadas da vida do aparentar, que vem para nos ludibriar, às escancaras das anedotas, das troças, das traças a desfilar, das fanfarras com suas trombetas, das luzes e suas lunetas, da vida com suas falsetas.

São traços a se definir. São ruelas dos desenhos a se construir imagens, vida de alucinações, paisagens com seus clarões, horizontes que nos convidam a seguir, adiante, para a direita, para a esquerda, e um pouco pra trás para ficarmos no mesmo lugar. a pensar, sonhar, nos alvoroçar quando nos convidam a passear e sairmos da letargia do funcionar para o ápice do só querer amar, enfeitiçar, dos sonhos e do sonhar... E, até a vida acabar, vamos vivendo para observar as trilhas do apreciar, os resquícios do adivinhar, nas soluções que obtivermos no gargalhar das zombarias, das troças, nos períodos de traças-amorfas, saindo dos sermos troços para nos ludibriarmos com nossos traços, com nossos rabiscos. Nas cores que são só flores, nos poemas e nos amores, nas rimas que só fascinam nossas vidas do faz-de-conta, até cairmos vencidas no eterno ponto final de um eterno carnaval. Folia que ousa ser destemida, que norteia a imaginação e se apresenta assim tão nua e crua para sermos só histórias a se contar, pra se apresentar com seus enígmas nos exemplos, pra se viver da maneira que for, aos trancos e barrancos, sem leme e sem destino, que não seja o só viver pra crer. Nos contos dos escritos, dos era uma vez, dos sermos servos, do sermos fregueses sempre a dizer, que "a vida aos trambolhões é muito boa de ser vivida, porque é a única coisa que resta no nosso chão pra ser varrido"...

Traços, troças, traças, troços dariam livros de histórias do encantar, do ludibriar, dos contos do só sonhar nas vielas que só a vida sabe nos dar...

Maria Myriam Freire Peres

Rio de Janeiro, 17 de outubro de 2007

http://myriamperes.blogspot.com/2007/10/traos-da-vida.html

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 19/10/2007
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