Look fúnebre.

Sempre o encontrava no boteco ao lado de sua oficina, no fim de tarde, com aquela bermuda velha puída, que talvez um dia tenha sido uma calça jeans, suja de graxa e óleo.

O complemento de seu look era sempre aquela camiseta velha do "frãmengo" que ele amava.

Só lembro de tê-lo visto usando uma calça comprida no batizado de sua filha, há alguns anos atrás, bêbado e servindo carne crua aos convidados.

Mecânico gosta de uma cachaça... Tanto que a cirrose o matou.

Que pena... Lá vou eu pra o velório de mais um velho amigo...

Chego no ambiente, dou um abraço e minhas condolências à viúva antes de me dirigir até onde está a urna funerária.

Ao me aproximar, vejo a filha mais nova inconsolável, espantando, com uma flanela, as moscas que insistem em sentar no rosto do defunto.

Chegando mais perto, tenho a impressão de que não é ele que está ali, naquele caixão...

Paletó e gravata fazem parte de seu novo look, algo nunca usado por ele durante sua vivência.

Observando o cabelo que nunca vi penteado, fiquei imaginando seu jeito jocoso, rindo de si mesmo se voltasse à vida naquele momento...

Provavelmente iria dizer que aquela gravata estava apertada demais e iria xingar esse povo da funerária que, de uns tempos pra cá, pegou a mania de "maquiar" defuntos, e pediria de volta sua bermuda velha e sua camiseta do "frãmengo"...

Deus proverá 🙏.

Chico Rabelo
Enviado por Chico Rabelo em 29/07/2020
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