a dor e a delícia de ser o que se é

Eu não sei se isso acontece com vocês, mas às vezes eu me sinto tão cansada de ser eu. Isso de ver e sentir todas as coisas com intensidade ainda há de ser meu fim, embora eu não negue a possibilidade de que seja um fim bonito, mas ainda sim um fim. De qualquer forma, penso que sem isso eu dormiria melhor, já que minhas insônias são quase sempre consequências desse meu jeito de olhar tudo com uma profundidade que talvez nem tenha. Claro que já tentei mudar e também já tive a fase de achar isso o máximo e dane-se quem tivesse medo. Agora, na idade que estou, simplesmente desisti. Ou aceitei, para soar melhor. Essa sou eu! Essa sou eu e às vezes dói. Mas quase sempre é gracioso.

Ontem mesmo, durante minhas horas da madrugada, cheguei a uma conclusão que até pouco tempo atrás era impensável para mim. E percebi que talvez eu estivesse com o foco no lugar errado esse tempo todo. Ou seja: dor e graça.

Essa semana tem sido de dias sem fé e tudo que leio, ouço ou faço, cansa. Por conta disso, decidi ressignificar o sentido da palavra casa, e tenho me assustado ao reconhecer que estou no lugar errado. Mas é um susto bom.

Coloquei um mix da Nina Simone pra ouvir e deixei meu corpo dançar sob o som de Ain't Got No, I Got Life. Em alguns momentos eu só não queria analisar tanto as coisas. Quem dentro de mim mergulha, não morre. Fica odara. Enquanto sigo com esse amontoado de coisas que dançam todas as madrugadas, em cima desse peito.

#TextoDeQuinta

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 30/07/2020
Código do texto: T7021249
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