AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM ESTAFETA

Bem novinho, aos treze anos de idade, minha tia Idalina me botou para trabalhar no antigo Departamento dos Correios e Telégrafos, abreviadamente DCT, onde ela era funcionária antiga. Foi o meu primeiro contato com o que no futuro seria a minha profissão. Fiquei maravilhado com o trabalho do telegrafista. Era como se fosse uma mágica. Com um cigarro numa mão e uma caneta na outra, traduzia aquele tic-tac do código Morse e escrevia as mensagens no formulário apropriado, que depois iria ser entregue ao destinatário pelos estafetas. Assim eram chamados os mensageiros, os motoboys daquela época.

Não era um emprego formal, não tínhamos nenhum vínculo empregatício. Ganhávamos uma espécie de pró-labore. Era um serviço estafante (acho que era por isso que nos chamavam de estafetas). Pra começar era imprescindível o conhecimento de todas ruas, becos, vilas e travessas da cidade. Às 07:30 da manhã recebíamos, cada um, uma média de sessenta a setenta telegramas para serem entregues. Antes de partir botávamos todos eles numa sequência que iria ser a nossa rota. Os mais experientes sempre ajudavam aos mais novos nesta etapa. Um erro na sequência poderia nos fazer andar em dobro. Com sorte estaríamos de volta no início da tarde.

Meu sonho era ser telegrafista e foi nesta época que tive as primeiras lições, e, a julgar pelo meu empolgamento, logo seria realizado, não fosse o meu gênio ruim, eu era enfezado. Só fiquei três meses nesse trabalho. Fui tudo muito rápido. Certo dia, quando chegava de volta, após haver cumprido minha tarefa, vieram me dizer que alguém havia faltado ao serviço e que eu teria que ir entregar os telegramas que caberiam a ele entregar. Não deu outra. Me enfezei e disse: - Não vou! O Sr. Coelho (era o sobrenome dele, mesmo) não gostou da resposta e disse aquelas duas palavras terríveis: - Está dispensado! - Ou seja, está despedido. E o sonho de ser telegrafista foi adiado.

Dois anos depois, já com a Carteira de Trabalho de Menor, consegui um emprego na Companhia Radio Internacional do Brasil, para realizar o mesmo serviço, estafeta. Lá fiquei por seis anos, e ao sair já foi como telegrafista. Saí pelo mesmo motivo, tudo indica que eu continuava enfezado. Era um dia feriado, e como tal, ganharíamos horas extras, e o gerente, por economia, dispensou um outro funcionário e (de casa) por telefone me mandou fazer também o serviço dele. Vocês já adivinharam qual foi a minha resposta, não é?

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 30/07/2020
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