BEM-TE-VI
 
 
 
Bem-te-vi!... Bem-te-vi!... Esta era a letra do cantar, entoado pelo lindo pássaro de plumagem diversificada pelas cores amarela, preta, branca e marrom. Pousado sobre um verde galho ele, alegremente, não parava de entoar o seu lindo canto: “Bem-te-vi, bem-te-vi!”. Talvez ele quisesse conquistar uma linda parceira para, com ela, nidificar, gerar novos e encantadores Bem-te-vizinhos.

À sua volta, uma exuberante vegetação composta por gigantescas árvores com tamanhos e dimensões colossais. Eram Ipês-roxo ou Amarelos; Jequitibás, Cedros e Jacarandás, árvores nobres e, por assim serem, eram cobiçadas. Havia, também, as árvores frutíferas que proviam de alimentos a enorme variedade de animais silvestres, formando um habitat perfeito – aconchego da Mãe Natureza daquela exuberante fauna!

Graças àquela densa e bela mata, as abençoadas chuvas eram constantes. Os rios das regiões eram abundantes, de salutar água, com uma imensa e diversificada piscosidade – hoje, não mais! As abençoadas chuvas de outrora se transformaram em Chuvas Abençoácidas” pela intervenção do bicho-homem no meio ambiente.

E aquele equilíbrio ecológico, era a marca inconteste do sustentáculo da vida animal – inclusive do predador bicho-homem! E esta exuberante flora tinha (Como dói este pretérito, meu Deus!) um nome lindo: Mata Atlântica! Era uma mata que se estendia por todos os territórios dos Vales do Rio Doce, Mucuri e Jequitinhonha, indo penetrar pela região sul do Estado da Bahia e se disseminando por toda a região do agreste. Há de se lamentar que nem os orixás conseguiram conter a devastação terrível do demônio que se tornou o irracional e animalesco homem – bicho insensível, travestido de ser humano!

O inexorável tempo passa. Todavia, a ganância do bicho-homem, não. E ela se faz presente no mais alto escalão da governabilidade brasileira. O Presidente de antanho, visando aumentar as suas “verdinhas”, depositadas nas contas bancárias no exterior, vendeu o nosso verde da Mata Atlântica. E, para tanto, fora criada uma “Empresa Estatal” à qual deram o pomposo nome de BRALANDA – um conchavo governamental entre o Brasil e a Holanda.

E os bichos-homens, como um bando de esfaimados onívoros – munidos de serras, machados e tratores – invadiram a Mata Atlântica derrubando árvores, ceifando a vida vegetal e animal. A cada árvore tombada ouvia-se o grito: -“Madeira... madeira!” Cada árvore tombada levava a vida de tantas outras inocentes arvorezinhas, lá existentes. A cada árvore tombada era a destruição das nascentes que proliferavam, em abundância, na densa Mata Atlântica, bem como a destruição do próprio animalesco homem.

A Mãe Natureza – tentando salvar a fauna da sanha assassina do homem animal – gritava: - Fujam pequeninos, fujam!
Querer fugir, os pequeninos queriam, mas fugir para aonde se para donde fugir não havia.

Pelas cidades da região devastada, o povo assistia a passagem dos féretros compostos por caminhões a levarem nas suas carretas as inocentes árvores assassinadas. Por ignorância, os povos a tudo assistiam sem terem o conhecimento de que as suas vidas, bem como, as dos seus descendentes estavam sofrendo uma lamentável perda. Lamentavelmente, perdia-se ali, o futuro da humanidade!

Hoje, as cidades de Teófilo Otoni, Carlos Chagas, Nanuque, Mucuri e Jequitinhonha são meros arremedos das cidades de outrora – nada mais, delas, restaram. Em Carlos Chagas – como prova cabal da ignorância do bicho-homem – existe um “Monumento à Árvore”. É um enorme tronco daquela que, outrora, fora uma árvore que produziu vida, cuidou do bicho-homem e da natureza que ao bicho-homem provia. E ela – pobre e inocente árvore – morreu como morreu o Filho de Deus que, somente veio ao mundo para salvar e cuidar do bicho-homem e que, por ele, fora também, covardemente assassinado.

Hoje, o Bem-te-vi está pousado em um desnudo galho de um arbusto em uma metrópole (Selva de Pedras) que, em nada lembra a selva exuberante da Mata Atlântica que os seus antepassados conheceram. Ali há, tão somente, uns arbustos secos, desprovidos de frutos e vida, mais parecidos com arbustos oriundos da região das Caatingas.

Hoje, todavia, o Bem-te-vi, ao ver o sofrimento do bicho-homem dentro do meio ambiente por ele próprio depredado, mudou a letra do seu mavioso cantar:
-Bem-que-eu-disse!... Bem-que-eu-disse!... Bem-que-eu-disse!...
 
 Texto: Altamiro Fernandes da Cruz
Imagem: Google
 
 
Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 13/08/2020
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