Diário de um paradoxo

Ele acorda e vê sua mulher amada ao seu lado.

Pensa que está feliz por ter um bom trabalho, por ter sido promovido.

Por ter conseguido conquistar ao longo do tempo a casa dos seus sonhos.

Por ter conquistado seus objetivos.

Mas vive uma vida envolta de névoas.

No farto café da manhã, abre o jornal digital e lê as principais noticias do dia e pensa.

– Este mundo está perdido.

Mas o que ele vê quando se vê no espelho? Se acha um homem com ótimos conhecimentos, mas não é sábio. Ele não sabe esta resposta.

De repente, o espelho se quebra em milhares de pedaços.

Cada parte é um pouco de sua alma perdida.

Tudo se partiu.

Ele então em um desejo profundo. Resolve ir embora.

Vai. Larga tudo, sua mulher, seu emprego, sua casa, suas lindas cortinas de linho indiano que acabaram de chegar e ainda estão nas caixas. Até seu cachorro poodle de nome Boris ele deixou.

Vive isolado do mundo em sua caverna no alto de uma montanha.

E lá ele vive só. Triste e feliz. Com fome e sede. Dormindo e acordado.

Lá fora, a luz ofusca seus olhos sedentos por compaixão

Olha a sua volta e diz adeus com os punhos fechados.

Dentro de suas mãos que nunca pararam de sangrar, ainda estão os cacos de vidro do espelho despedaçado.

Eterna a dor que nunca irá deixa-lo.

Ele vai ter que conviver com ela para o resto de sua vida.

Dói muito, mas diziam no passado que ele era um homem forte.

Forte em que? Quem ele salvou? Se não consegue salvar a si próprio.

Então ele acorda molhado em sua cama de seu sonho.

Ou foi realidade? Foi e voltou.

Sua bela mulher ainda dorme na mesma posição e uma respiração profunda.

Só a partir do pensamento livre e transcendente que ele teve que mudar.

Soube conviver com a dor, administra-la da melhor forma.

Por mais que digam que ele tem tudo.

No fundo sente que não tem nada.

Vive num paradoxo infinito.

Pedro de Alcântara
Enviado por Pedro de Alcântara em 14/08/2020
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