QUEÍSMO E  PARANOIA
 
Confesso meu estado patológico. Há anos, depois da descoberta do tesão irresistível para com o pronome relativo "que", comecei uma batalha impiedosa contra o coitado. Não o quero presente nas minhas construções e faço coro para, quem sabe, atrair mais adeptos em favor da pauta. O exagero é certo, mas um homem ponderado é presa fácil nas mãos de outros inveterados e de fácil traquejo. Logo, a inconsequência tem as suas vantagens, como a de dificultar as ações e as reações.

O ponto de incômodo é as pausas forçadas imputadas pelo o dito cujo, quebrando o texto e deixando a leitura enfadonha. As pessoas desaprenderam a escrever? Onde estão as orações reduzidas no infinitivo? O particípio, foi embora? Os pronomes oblíquos e as locuções adjetivas inexistem no cardápio? Oras! O queísmo de cada dia é igual aquele chefe mala, a gente suporta por temer o desemprego.

Ao zapear aqui no Recanto, encontro textos belíssimo, mas assolados por três letrinhas. Me é corriqueiro contá-los e classificá-los de acordo a uma tabela de níveis personalizada. Em um escrito de cinco estrofes, dá direito ao sujeito escrever apenas um "que", com sete, dois, com dez, três, e assim por diante. Foi uma forma encontrada para não ser tão inflexível com meus pares.


Contudo, preciso ser honesto e dizer o quão meu caso é grave. Não me basta, nos meus escritos, varrer os "quês", agora já me irrita ler textos e constatar a presença dessas partículas. Só me vem na mente: o autor é cego? Esse queísmo aí está insuportável! Estou procurando ajuda. Já liguei para meu terapeuta linguístico e marquei uma sessão. Até lá, resisto ao suicídio a cada frase lida.