Vou puxar papo com o pipoqueiro, sim! Enquanto espero o Uber. O tempo mínimo na capital é o equivalente à distância entre minha cidade e BH, então sobra pro informal a triste batalha de suportar minhas expectativas frustradas de chegar em casa antes das seis.
Enquanto aguardava, comia pipoca salgada. Já estava no segundo pacote. Bem na minha frente um carro esportivo branco impecável com um pneu furado e o subsalente ao lado, de pé. Do lado uma mulher que andava da esquerda pra direita, numa expressão corporal fortíssima, falando ao celular. Ela se abaixava, levantava, chorava. E continuava no telefone. Era atraente, vestidinho colado e “nádegas a declarar”.
Minutos depois, parou um carro preto. O rapaz olhou pra moça e dando sinal de alerta, parou o veículo e mesmo sem conversar com ela, solidariamente pegou os materiais necessários e começou a trocar o pneu. Não demorou muito e o serviço terminou. O rapaz do carro preto foi imediatamente ao encontro da moça que estava desligando o celular e colocando-o na bolsa e falou:
- Fiquei preocupado ao ver uma mulher linda com um pneu furado nesse bairro afastado, quase anoitecendo. Troquei pra você! Espero que goste.
A mulher reagindo estranhamente olhou para o rapaz e disse:
- Moço, esse carro aí não é meu não. Estou esperando o Uber. Estava no telefone quando o cara parou aí. E apontando para a esquerda, mostrou um homem caminhando em direção ao carro (acompanhado de alguém) que era proprietário do veículo: de short de academia, meia branca alta, camiseta pink, uma garrafa laranja fluorescente é um tênis amarelo limão. Quando o rapaz olhou para o solidário ajudante os olhos brilharam.
- Não acredito que fez isso por mim? Obrigada, amore. Fui ali buscar esse borracheiro, mas como você já resolveu... Como posso te pagar? Disse ele com um olhar sedutor tipo olhar 43.
O “bom rapaz” tipo machão dos anos 50 com os hormônios ativados em nível hard, meio sem jeito, disse que fazia esses serviços gratuitamente no bairro, por vocação religiosa, tinha uma fé extremista, sua missão era ajudar a todos, sem distinção de raça, cor ou sexo. O mecânico olhou revoltado e soltou:
- Vocação religiosa, uma ova. Está tirando meu ganha pão, moleque. Racha daqui antes que peça pro Cacique lá do morro te apagar.
O cara pediu desculpas entrou no carro e acelerou...
Caímos na gargalhada. O Uber chegou e ao entrar fui cumprimentá-lo:
- A benção! 
- Deus te abençoe, minha filha.
Ainda bem que o motorista era religioso. Fingi demência e fiquei em silêncio a viagem toda. É... Sempre pode piorar... Jamais ria da desgraça alheia. Fim!
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 21/08/2020
Reeditado em 24/08/2020
Código do texto: T7042073
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