Chico Xavier e Seu Natã

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Chico Xavier o segundo Prefeito de Campos Belos(GO), o primeiro eleito por votação. Apreciava uma boa bebida, mais reservadamente; cuidava da sua privacidade, ainda mais como chefe do Poder Executivo.

Se tivesse bebida em casa não teria a mesma graça que as dos bares. A venda do Seu Natã era um reduto etílicos de muitos do lugar.

O carismático e extraordinário líder político da cidade onde chegava aglutinava as pessoas em torno de si e tornava o centro das atenções. -- Valorizava as prosas com os ‘vendeiros’ e demais amigos; sabia ouvir o povo, atendê-lo…

A sua correria era muita, para dar conta dos serviços da municipalidade local. As demandas dos munícipes por melhorias não cessavam de chegar à sua mesa de trabalho (e pelas ruas).

Administrava a cidade dentro das suas possibilidades; muito prestativo. Contava com uma boa assessoria. -- Priorizava a honestidade acima de tudo.

Vivia com um pé nas obrigações da Prefeitura e outro, na vida social; precisava conciliar uma coisa e outra.

Ao adentrar-se no comércio do amigo logo desejava degustar a sua bebida preferida... Como de costume agachava-se atrás do balcão (num vão do mesmo ficavam as bebidas).

Perguntava ao meu pai sobre uma 'amarelinha' que gostava. -- A dita vivia acondicionada num litro bonito como um cristal; transparente, com fino rótulo chamativo, atraente.

Antes da degustação o aproximava do nariz e sentia o suave aroma do líquido tentador; se servia ao despeja-lo num copo de vidro Nadir Figueiredo. -- A mostrar uma cara de quem queria mais.

Com a concha duma mão para cima colocava um pouco da bebida. Passava aquele ‘néctar dos deuses’ nas mãos e braços. Ganhava a Rua do Comércio a inspirar a fragrância que ainda restava da bebida.

A cada visita ao comerciante repetia o mesmo ritual...

Com um bom tempo a fazer aquilo pediu ao meu pai que somasse a conta. A soma era feita na caneta, com a prova dos nove na moda antiga; — deu trabalho aquele serviço. A conta somada o Xavier foi à loucura ao saber do montante há ser pago e, com o que havia bebido.

Não concordava com aquela vultosa quantia apresentada. Alterou a voz e ficou bravo que nem um cupim...

Pensava ser um roubo a mão armada e o meu pai deu as suas explicações:

— Xavier, sabe essa bebida amarela que você toma, passa nos braços e mãos, esse tempo todo?

— Não!!

— Isso é o famoso “Whisky Drurys” Xavier. Uma das mais nobres e caras, bebidas destiladas. Tal ‘luxo’ não é para qualquer um...

O Prefeito, mais moderado disse:

— Você deveria ter-me avisado…

— Não o avisei Xavier porque não havia a necessidade disso. Se antes de comprar uma mercadoria eu avisar o preço ao freguês, não cai bem.

Num Cheque Mate Xavier não teve palavras; estava mesmo sem saída; contrariado pagou a conta e saiu.

Não ficaram inimigos pelo ocorrido.

Por certo, não mais comprou na caderneta em praça alguma e nem bebeu daquelas amarelinhas, para evitar assim, surpresas desagradáveis, gastos supérfluos e má querença.

*Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.

(10:03:18)