A última fila

Já escrevi um texto sobre a fila e o encerrava com a “fila da morte”. Pois bem, volto a esse tema, justamente por onde terminei.

Estava eu nessa fila e dando uma de “espertinho”, tentei bancar o paraquedista, passar na frente dos outros, furar a fila, burlar a organização.

Explico: como quem não quer, fui me esgueirando ao lado das pessoas, (adotei hábitos não saudáveis de alimentação, comidas gordurosas, carnes vermelhas, frituras, doces, etc.), e consegui avançar sobre algumas pessoas. Como ainda estava longe da cabeça da fila, cheguei junto de pessoas mais à frente, convencendo da necessidade de ir primeiro, (exagerei nas bebidas alcoólicas), por fim para conseguir ser o primeiro, cheguei na frente e disse que meu lugar era ali, pois tinha ido fazer xixi, (na verdade eu tinha abandonado as recomendações médicas e deixado de tomar os remédios para colesterol e triglicerídios) e estava infartado.

Foi nessa hora que ouvi um burburinho na fila. As pessoas me chamando de paraquedista, reclamando que meu lugar não era ali, que ainda não era minha vez, na realidade eram as orações das pessoas queridas, parentes, amigos e tantos outros.

Foi aí que apareceu o organizador da fila, Deus. Perguntou o que está havendo aqui? Responderam em oração: Senhor não deixe esse aí entrar, não é a vez dele. Ele tá querendo passar na frente dos outros. A hora dele ainda não chegou, quer bancar o “espertinho”. Ele prontamente do alto da sua autoridade, chamou os seguranças, os seus anjos, e disse: retire ele da fila e o coloque no lugar correto. Eles, fardados, todos de branco, armados, com estetoscópios, tensiômetros, oxímetros, me pegaram pelos braços, puseram-me numa cadeira de rodas, levaram-me para uma sala, deitaram-me numa maca, puseram uns fios no meu peito, uns pegadores de roupa grandes nas pernas e nos braços. Pensei comigo: deve ser tortura só pelo meu comportamento indevido. Depois soube que era um eletrocardiograma. Acharam pouco, me levaram para coletar sangue, fazer raio-X e colocaram numa cama cheio de fios no peito, pensei ser uma sentença de morte, numa cama elétrica.

Me deram uns remédios e consegui dormir. No outro dia, um dos seguranças, chegou pá mim e disse: você infartou, (tentando passar na frente dos outros na fila), mas Ele ouviu as reclamações, (orações), dos seus parentes e amigos e retirou-o da frente, colocando-o no seu devido lugar. Mandou adverti-lo de que não faça mais isso, pois pode ocorrer de passar despercebido e você conseguir ser o primeiro da fila. Ah, ia me esquecendo, exclamou: Ele deixou um presente para você. Eu disse: Obrigado. Cadê? Perguntei. O segurança respondeu: está na coronária esquerda, um lindo stent metálico, que a desobstruiu de 95% de entupimento.

Agora, pacientemente aguardarei minha vez, sem querer passar na frente de ninguém.

Agradeço aos revoltosos que não me deixaram furar a fila com suas orações e ao organizador, Deus, pela graça de me conceder estar contando essa história.

Massilon Gomes
Enviado por Massilon Gomes em 29/08/2020
Reeditado em 31/08/2020
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