Era uma vez, e não era uma vez: um livro imperfeito.

“Era uma vez, e não era uma vez.” Essa frase paradoxal traz o intento de chamar a alma do leitor/ouvinte para o fato de a história ter lugar no mundo entre os mundos das narrativas, em que nada é o que parece ser. Penso se existe um livro perfeito ou parece perfeito, mas torna-se transitório,pois pertence a um determinado tempo em nossas vidas? Preenche-nos de felicidades e nos induz a várias sensações, reflexões e pensamentos quando lemos aquela narrativa, observamos aqueles personagens e falas, entretanto serão momentâneos. Logo, descansamos daquela leitura, vamos à procura de outras que serão perfeitas enquanto estiverem em nossas mãos, nos olhos e nos sonhos, até surgir um depois. Eu fui uma leitora assídua em todas as fases da minha vida, o primeiro livro que bagunçou a minha cabeça foi "A fada que tinha ideias", de Fernanda Lopes de Almeida, pois isso é um livro perfeito, aquele que mexe, desacomoda as nossas percepções. Depois vieram os livros do Monteiro Lobato, hoje, odiado pela manada que se alimenta das redes sociais sem serem leitores, mas produzem o tal “cancelamento” de autores, mesmo sem conhecê-los literariamente. Mas, como eu creio mais nas obras do que nos homens, ou seja, separo os autores das obras, do contrário, segundo o autor Cristovão Tezza, não leríamos nem o Shakespeare. Na entrada da adolescência, apaixonei-me pelo Machado de Assis e as suas mulheres extremamente ambíguas e sedutoras: Sofia, Capitu, Marcela, Flora, Vigília, Guiomar e, mais pelo menos nove contos, que possuem como protagonistas principais: mulheres. Poderia dizer que aprendi a dissimular com as leituras do Machado de Assis. E assim, vieram outros livros perfeitos: Inês Pedrosa, Mia Couto, Ana Miranda, Bernardo Carvalho e as minhas gaúchas: Lya Luft, Martha Medeiros, Cintia Moscovich, Claudia Tajes, Eliane Brum e Leticia Wierzchowski, ainda estou em busca do livro perfeito, mas imperfeito para que eu busque o próximo...

Marisa Pedras