Baixou o santo? Nasceu a criança (bviw)
Escreva, é terapêutico. Mas se você acha que tem talento suficiente para executar uma grande obra, abra os olhos e ouça o que vou dizer.
O primeiro capítulo quebra a resistência e vem com uma marca de nascença. Ou ele vai, sem esforço, jogar o livro pra cima, levá-lo ao triunfo, ou vai amargar a culpa crônica de ter deixado voar ladeira abaixo as folhas de sua árvore literária.
Comparado a uma peça de teatro, diria que o primeiro capítulo é o ato inaugural, preâmbulo fatal, trunfo. Se a estreia for insípida, o que vier depois serão perceptíveis tentativas de não deixar a plateia abandonar o recinto, luta por um falso aplauso final.
Comparado a um caso de amor, diria que primeiro capítulo é paixão à primeira vista. Certo que súbita paixão não garante final feliz, mas se bem cuidada pode virar um amor e tanto!
Numa outra perspectiva, poderia dizer que aos poucos eu posso me surpreender positivamente com um amor que nasceu de uma convivência ruim. Mas não é assim com os livros.
Verdade é que, se eu tivesse todo o tempo do mundo para escrever o livro perfeito, sentaria ao seu lado; insistiria na pesca, manteria o barco ao mar, lutaria contra as ondas com a certeza de que ao fim eu venceria o peixe. Na execução de uma obra literária é diferente. Afinal, há outros livros esperando por mim.
Então - inclusive aos avessos à mediunidade - meu conselho é: espere baixar o santo. A partir daí acredito que o resultado, se não for produto de talento, pelo menos terá sido o melhor de si.
"Um dos ingredientes do sucesso está nas mãos do des(a)tino"