OS ENCAUCHADOS

OS ENCAUCHADOS

Chapter # 5

Autor Moyses Laredo

Os encauchados têm origem na cultura indígena da Amazônia, com registros mais antigos, também encontrados na Colômbia. É uma técnica de impermeabilização de tecidos com o uso do látex da árvore do Caucho (Planta amazônica pertencente à mata de terra firme e, como a seringueira, também é produtora de goma elástica, mas seu látex não apresenta as mesmas qualidades do produzido pelo gênero Hevea (seringueira) e precisa ser misturado para a fabricação de uma série de produtos para uso local. Para obtenção da impermeabilização desejada o látex não era coagulado e sim desidratado. O objeto, que podia ser uma camisa, ou um saco grande, eram devidamente pintados com o látex e deixados secar na temperatura ambiente, a técnica permitia a fabricação de uma série de produtos (vasos, roupas, bolsas, sapatos). O processo visa busca incorporar a sabedoria tradicional dos povos indígenas na manipulação do látex nativo, a partir de uma tecnologia simples, barata e de fácil assimilação. Trata-se da técnica de fabricação dos encauchados - sacos impermeáveis assim chamados. Essa técnica melhora a qualidade da borracha, sua durabilidade e resistência a intempéries.

De modo geral, o látex que é extraído das seringueiras, passa por um longo processo para ser utilizados, mas também, são árvores de caucho, que é um líquido viscoso e esbranquiçado que brota da seringueira quando ferida, e que é usado na fabricação de pneus, embora hoje em dia, em percentual de borracha que entra na composição dos pneus é mínimo, porém, imprescindível na mistura para obter a liga necessária dos pneus de borracha artificiais. Daí também se originou o termo “Recauchutagem” (reforma de pneu usado, colando outra banda de rodagem na superfície gasta).

Nos seringais, os saco encauchados, serviam para transportar roupas, redes e cobertas e para não molhar, no caso de se depararem com chuva nos caminhos, pelos varadouros, no entanto se deparassem com chuva, não molhariam os produtos ali guardados, porém, tinha um porém, mudavam de cor com o contato com a água, ficavam branquinhos que nem o leite, mas, quando secavam, voltavam a cor normal do tecido que era feito o saco. Essas riquezas fazem parte da sabedoria e da vivência dos seringueiros de nossa Amazônia, que sem o plástico de hoje, se viravam com o que tinham à mão, tirado da mata. Os sacos encauchados serviam para mil utilidade, desde o transporte de farinha, até do próprio leite da seringueira para o defumo. Contam os mais antigos, que, no início do século, foram também utilizados para transportar água, e toda sorte de mantimentos para os combatentes, na revolução acreana. Nesse trecho da rica história acreana, o combate se deu na maioria com seringueiros, homens rudes, sem treinamento, de maneira atabalhoada, com enormes baixas para o lado brasileiro, até que, o militar do exército brasileiro, e agrimensor Plácido de Castro, que era filho de Rio Grande do Sul a serviço por aquelas bandas, resolveu se aliar, atendendo um chamado de seus brios, vendo irmãos brasileiros serem abatidos pelos soldados bolivianos de mínimo treinamento, que se punham do outro lado do rio Acre, entrincheirados, com suas armas bem apoiadas, faziam mira nos cabos e sargentos brasileiros, que comandava os homens, ao menor movimento, percebido da margem, de lá vinha um tiro certeiro e uma queda aqui. Plácido mudou o estratagema, trocou a farda dos comandantes brasileiros, de azul forte, para o verde oliva camuflado, ao mesmo tempo, criou chamarizes com bandeiras azuis, que confundia os atiradores bolivianos, e assim, conseguiu reverter a situação, ocasionou sérias baixas no lado boliviano, porque, os brasileiros passaram a mirar, na faísca do cano das armas deles, e quando por fim, os bolivianos se deram conta disso, trataram de acenar uma grande bandeira branca do lado de lá, em seguida enviaram uma delegação com três militares, atravessaram a correnteza do rio Acre, sempre acenando a bandeira pedindo trégua. Disseram que queriam uma negociação direta com o comandante Plácido de Castro, a delegação foi bem aceita, com auspiciosa saudação pelos seringueiros brasileiros que a pouco tempo caiam feito moscas pelo fogo boliviano. Plácido também queria pôr fim aquilo, por isso os recebeu em seu bem protegido bunker. Porém, sua experiência de militar lhe dizia que algo não estava certo, assim que a delegação saiu, tratou de mudar seu bunker de lugar, cismou porque a delegação boliviana formada por dois meros soldados e um cabo, não trouxeram nada de concreto para a tal reunião, muitos sorrisos e abraços, e olhares astutos, mas nada daquilo que representasse de fato uma negociação séria. Para a surpresa de todos, horas depois, o antigo bunker do comandante Plácido de Castro foi bombardeado com fogo de morteiro, destruindo totalmente o lugar. Plácido tinha razão, os bolivianos vieram marcar a posição do comandante brasileiro, que era àquela época, o maior empecilho para a vitória deles. Nessa revolução, ganha galhardamente pelos brasileiros acreanos, onde foi incorporado o Acre ao Brasil, foi atendida inteiramente com os sacos encauchados, transportando toda sorte de mantimentos, água e materiais médicos para os feridos.

Molar
Enviado por Molar em 02/09/2020
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