(Na foto, nosso Grupo de Line Dancing. Comecamos em 2012. Saudades!)
                                                                (Desculpe a falta de alguns acentos)



Sempre fui uma pessoa ligada na tomada, pilhada como se costuma dizer, desde o momento que eu levantava da cama, ate a hora de dormir (e nunca gostei de dormir, reluto, reluto, porque amo a noite .
Dizem os mais informados que um brasileiro médio (serei agora considerada Americana?) passa 23 anos, 9 meses e 7 dias de sua vida dormindo. Quanto desperdício!

Mas voltando a ser “pilhada”, sinto-me completamente diferente nessa pandemia. Parece que minha personalidade mudou.

Costumava acordar cedo, fazer meus exercícios e ate a hora de dormir eu tinha uma agenda cheiíssima com milhares de coisas diferentes: pilates de manha, Zumba na hora do almoço, Line Dancing a noite. E isso tudo entremeado com cuidar da casa, fazer comida, conversar com os vizinhos, plantar minhas flores, cuidar de  minhas plantas, atualizar minhas conversas no whatsap, encontrar com amigas para jantar, sair para andar nas Lojas, comprando ou somente “window-shopping”, minha vida era cheia!

Começou a pandemia, e no primeiro mês fiquei em pânico. Cheguei ate a ter aquela depressaozinha básica, um dia chorei muito de manha, o Roque ficou preocupado, mas falei para ele que eu precisava sair de carro e dar uma volta, sozinha. Eu me sentia tão encarcerada, que só estava faltando a tornozeleira.

Mas os meses foram passando, e fui me adaptando a rotina. As amigas começaram a fazer reuniões online (sinceramente, tentei, peguei ate uma tacinha de vinho - mas achei super sem graça). Comecei a aprender a fazer todo tipo de pão possível e imaginável (poderia hoje abrir uma Padaria). Fiz faxina nos meus guarda-roupas, juntei um monte de coisas para dar, reorganizei algumas fotografias, mudei um pouco a decoração (tirei um quadro ali, coloquei lá) e assim os dias iam passando.
 
Ficamos 3 meses sem ver minha filha, que jovem, ainda socializava um pouco, e o medo do vírus era tanto, que não tínhamos coragem de enfrentar esse encontro (nem com mascara). Afinal somos dinossauros.

E o tempo continuou passando, em Maio  ela começou a vir novamente em casa almoçar nos Domingos, abrimos as janelas para circular o ar (rs), ela numa ponta da mesa, nos na outra. Sem abraços.

No começou, eu morria de vontade de abraçar. O abraço ficou faltando em minha vida, como se eu não tivesse um braço. E logo eu que abraçava vizinhos, amigas, ate o Mike carteiro, eu sentia falta de falar com as pessoas, aquelas conversas informais de fim de tarde. Parecia que sempre estava faltando uma parte grande de mim, que deixei em algum lugar.

Hoje, depois de 6 meses de pandemia, me assusto. Me vejo totalmente confortável dentro da minha casa, não tenho vontade de sair, nem de socializar. Na verdade, me incomoda pensar em sair. Outro dia uma amiga muito querida me ligou e disse: “Vamos no Parque? A gente senta separadas, cada um leva seu café, só para conversar”. Não aceitei o convite e me surpreendi. Mas ela compreendeu. Nao tinha vontade.

Outro dia resolvi ir ao Parque fazer Zumba ao ar livre. A Zumba, com distancia social e mascaras. E eu passei 1 hora dançando sem um pingo de divertimento. Alias, foi ate meio sofrimento, ficar atenta se a fulana do lado estava passando da distancia social, se a outra estava respirando no meu cangote. Uma espirrava e todas se afastavam.

Mudei! E essa mudança de certa forma me assusta. Embora esteja nesse momento confortável dentro dela, fico pensando que essa nao sou eu.  Estou muito comportada e quase nao me lembro da antiga Mary.
 
Minha vida agora eh sair de manha com o Roque (vamos ao Parque fazer nossos exercicios diarios , ele corre, eu ando) e nos encontramos depois de 2 horas. Chegamos em casa comemos frutas, e lá vou eu dar um jeito na casa, pensar o que mais tarde farei para o almoço (amo cozinhar!).

Caio na rotina  de lavar roupa, dar uma arrumadinha aqui e ali, saio para colocar o lixo reciclável, aproveito e dou uma longa volta de carro ouvindo Willie Nelson, meu cantor country preferido.

Depois minha vida se resume em almoçar, o Roque e eu sentamos na sala para longas conversas , depois cada um vai fazer o que gosta (ele trabalhar um pouco no computador, e eu escolho algo como ler, ouvir musica, mergulhar em caixas de lembranças, e ai vai…).

A noite, nos dois no sofá para assistir um filme no Netflix, ou Amazon.
Outras noites, sento no meu deck para assistir o por-do-sol.
Algumas vezes me sinto tao confortavel, que o mundo l
á fora chega a me assustar um pouco. 
Minha casa - meu porto seguro. 

E uma pergunta que nao quer calar: será que vou voltar a ser a mesma pessoa de antes?  Ser
á que essa vacina vai fazer milagres dentro de mim e trazer a antiga Mary de volta?
Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 05/09/2020
Reeditado em 05/09/2020
Código do texto: T7055307
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