As tais fotografias

Cissa de Oliveira

Um dia eu haveria de falar sobre isto. Todas as vezes que visitamos imóveis postos à venda, principalmente por ocasião da nossa mudança para outra cidade, e quando esses imóveis eram mobiliados, havia algo que não podíamos deixar de observar: as fotos do casamento. Não que elas estivessem em álbuns expostos na sala íntima ou na sala de visitas da casa, não! Eram na forma de pôster e colocadas no quarto. Geralmente atrás da porta o que nos causava uma certa estranheza e então eu me pegava a pensar no porquê daquilo. Era como se na mudança tivessem deixado para trás tudo o que estivesse fora de moda: os móveis antigos, as cortinas com suas cores muito sóbrias ou espalhafatosas, o tapete castigado e o pôster em preto e branco (geralmente já amarelado) e talvez um tanto grande para o espaço na casa nova.

Dia destes fiz uma limpeza especial aqui no apartamento, aliás escolhido depois de muita pesquisa. Limpeza de papéis e seus derivados. Até parecia que em cada gaveta havia um mundo compactado. Agendas, papéis antigos, documentos já sem validade, contas de há muito pagas, lápis desapontados, enfim, essas coisas que com certeza nunca mais serão necessárias, haja vista, estavam já no esquecimento.

Ah! A falta de espaço! Ainda bem que há a casa da praia. Para não ficar de todo ocioso, há lá um bom espaço preenchido com livros antigos, quadros antigos, discos antigos e logicamente fotos antigas - as tais fotografias - inclusive um certo pôster. Adianto que ele não está atrás da porta.

Com o tempo a gente aprende a não estranhar tanto as coisas - e a odiar as punhaladas dos pregos nas portas!

Da série: “Coisas do casamento"

17.01.05

Cissa de Oliveira
Enviado por Cissa de Oliveira em 19/03/2005
Código do texto: T7058