O Pedro tem olhos verdes, a Cibele tem cabelos lisos, o Marcelo tem dentes claros e a Mônica (coitada) tem dor de cabeça. Nunca vou me esquecer de como sempre sou lembrada na família.
Pode parecer brincadeira, piadinha de bom gosto, mas não é, desde os meus 8 anos sofro com dores de cabeça intensas, capazes de me deixar dias sem contato com o mundo.
Exames de todas as espécies foram feitos e, na ausência de um diagnóstico provado nas imagens (da ressonância magnética ou tomografia), fui diagnosticado pelo neurologista como portadora de enxaqueca crônica, aliás essa expressão já caiu no desuso, sou portadora de Migrânea e ponto final.
Ponto final? Nada! Se tem um crime prescrito na legislação penal brasileira que resumiria com maestria a sensação que tenho após uma crise é a apropriação indébita.
Simplesmente age como se dona fosse e se apossa do órgão responsável por toda a operação da máquina. É falência na certa! 
Como especialista em mudar a rotina, simplesmente derruba qualquer possibilidade de um “rolezinho” ou uma cachoeira nas manhãs de primavera. 
Olhos vendados porque a luz do sol é tipo alho pro vampiro; os gases estomacais fazem movimento de refluxo e a cabeça parece receber internamente uma bola de chumbo. 
Uma dor pulsante capaz de impedir até os movimentos mais simples como abrir e fechar os olhos, se alimentar, dar sorrisos, ouvir cachorro latindo...
Gatilho alimentar, gatilho social, gatilho espiritual, gatilho do escambau!
Por isso todo mundo que tem enxaqueca é chato. Respirar é condição inapropriada só justificada pela teoria do menos pior: ter dor de cabeça ou morrer sem ar. É chato porque quer silêncio, é chato porque tem enjoos, porque não quer comer, é chato porque é chato.
E o cefaleterista sem nenhuma cerimônia vem e diz:
- Não há como definir a espécie de dor de cabeça para cada ser humano afinal são em média 135 tipos! O que podemos é trabalhar com a eliminação!
A eliminação da humanidade? Minha mente acelerada repete em voz baixa mas num grito da alma. Haja cabeça pra tanta dor! Haja dor pra tanta cabeça (oca)!
Então, por favor humanidade: “Salve um portador de enxaqueca crônica!” Não ofereça chocolates, não dê perfumes de presente, não coloque suas roupas para nadar no amaciante, peça pro cachorro não latir, não exija muito do pensamento e da racionalidade e, por fim, paciência, paciência, paciência. Duas “neusas também ajudam! Um “Naxotec” entregue bem no cantinho da porta, sem claridade também! Aguarde 72 horas em alguns casos, na maioria 48. Não dê conselhos para procurar um médico, ele já fez isso, ao mínimo umas 100 vezes, sem sucesso. Presentes com um óculos de sol UVA, UVB, UV-C, e assim sucessivamente ( se houver) e quando tudo passar faz a egípcia e espere a próxima crise e se enfie numa tumba! Ah! Uma aplicação de botox com justificativa estética pode matar dois coelhos com uma cajadada só! Um depósito em dinheiro vivo sem justificativa também! Amanhã terei mais conselhos de como conviver bem com um “enxaquecoso”, FIM! 

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 08/09/2020
Reeditado em 09/09/2020
Código do texto: T7058452
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