A natureza é fascinante! Andando pelos caminhos desenhados naturalmente por ela, vejo árvores, galhos, folhas, flores e frutos. Haveria nome melhor que Flora para designá-la? “A Flora aflora” em nós sentimentos perdidos, talvez escondidos na raiz de nossa identidade tão vulnerável, desde a pequena infância.
Somos aquilo que repetida vezes assistimos, somos aprendizes, estamos aguardando um mestre, um professor, por isso, o exemplo arrasta e as palavras se perdem no vento, como se fossem penas de ganso. A teoria só se materializa na prática.
Não sou boa de datas, convenientemente, uso um aplicativo de celular para lembrar dos compromissos inadiáveis e, para aqueles momentos que demandam lembranças doces, faço mapas mentais, onde traço linhas geográficas que se encaixam perfeitamente, formando uma espécie de legenda.
Vez ou outra busco legendas para não esquecer das raízes que me sustentam nessa terra. Taí outra definição que considero encaixar perfeitamente na descrição: árvore genealógica.
Os antepassados são um galho vivo na interligação cosanguínea e, justo citar, são também os “sais minerais” do qual nos valemos para não permitir que morram tradições, costumes e a cultura, a eles inerente, e por conseguinte, a nós transmitida de geração em geração.
Tenho tantas marcas de meu bisavô baiano. Era um homem que não fugia das responsabilidades e nunca foi vítima da conspiração universal para o bem ou para o mal. Cria ele, que todo esforço gera sucesso e se este não vem, decerto não era sucesso, mas expectativa. Estava aí sua maior lição, sem nunca ter lido um livro: resiliência e antifragilidade.
Minha bisavó morreu quando minha avó tinha 2 anos. E como era comum, na época, o meu bisavô não suportando a viuvez, bem cedo, casou-se novamente. Minha avó era a caçula dos filhos e vivendo a precariedade e a perversidade humana de frente, viu seus irmãos serem maltratados e muitas vezes, revelou-nos situações dolorosas, nas quais, vivendo numa grande fazenda de meu avô, teve que se aproveitar do sal que era utilizado para a criação de porcos para salvar a comida dos irmãos. Não faz muito tempo que ela faleceu, logo, essas lembranças a marcaram por toda a vida. Mesmo sendo herdeira de meu bisavô, viveu as dores de abstinência que se contadas, daria vida ao roteiro perfeito de novela.Foram muitas. Fruto da ausência de sensibilidade de sua madrasta.
Raízes fortes tinha aquela mulher, que tempos depois, veio a se casar com meu avó e me deu a alegria de chamá-la de vó. Foi uma escolha universal perfeita!
Tenho dela as melhores lembranças, olhos azuis, cabelos claros e um semblante triste, carregado de cicatrizes. Não que fosse infeliz, era alegre, festiva, fazia os melhores “cubus” e se sentava na grama, de vestido e avental, para nos contar sobre aqueles que nos antecederam.
Dizia ela que já foi árvore, onde suas folhas caíram. Mas a natureza a ressuscitou. Teve seus galhos arrancados, violentamente, mas brotaram. E sempre repetia que a luz de Deus e a água da família restada, eram seu sustento.
Olhando a natureza assim, de frente visito minha vozinha, tão apaixonada pela natureza, tão aflorada em sentidos e tão forte. Suas fragilidades eram camufladas, era um camaleão humano, nunca a vi esmorecer, mesmo tendo sido diagnosticada com “coração grande”. Não entendia direito o que isso significava no corpo físico, mas posso afirmar, sem medo de errar, o coração dela era gigante de sentimentos nobres!
Em havendo possibilidade de herdar algo dessa linhagem, escolho a força que não se dá pela violência, mas pela leveza da passagem, usando as pedras, não como um obstáculo, mas como um desafio a ser superado.
Se sou privilegiada? Sim! A natureza grita até em silêncio! O cotidiano é um presente. Minha árvore genealógica tem galhos de sabedoria.

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 10/09/2020
Reeditado em 10/09/2020
Código do texto: T7059661
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