DEUS X diabo

Acordei cedo hoje para ir à igreja... confesso que não foi fácil acordar mas eu precisava muito ir...e foi muito bom, mas no caminha de volta para casa fiquei pensando na verdadeira realidade da humanidade, o padre deu um sermão sobre Deus e o Diabo, cheguei a conclusão que esse papo de Jesus é lindo não cola comigo. Minha religiosidade admite que só existe a luz por causa da sombra e, antes de serem incompatíveis, são inseparáveis. Não gosto do maniqueísmo. Sabe qual a minha carta preferida do tarô? O Diabo. Ele é algo sobre o qual as pessoas nunca chegarão a um acordo, assim como Deus. Mas, ao contrário deste, fica mais poderoso à medida que o tumulto à sua volta cresce.

O Diabo faz as pessoas pensarem, viverem, temerem. Não acredito no cara de rabo e tridente, e sim naqueles desejos que nos impulsionam. Daí entra Deus. Deus é nosso desejo de amar, vontade de confiar, ter estabilidade, dormir na rede com o ventinho batendo no rosto. Deus é a calma, o maravilhoso equilíbrio que sempre buscamos, mas que não saberíamos ser maravilhoso se não conhecêssemos o oposto. Sem as dualidades, a vida seria um marasmo sem fim.

Gibran Khalil, num de seus contos, narra o encontro de um padre com o Diabo. "O padre aproximou-se e inclinou-se sobre o moribundo e viu uma face estranha, na qual se misturavam a inteligência e a astúcia, a fealdade e a beleza. O padre soltou um grito terrível e bradou trêmulo: “Deus me revelou tua face infernal para alimentar meu ódio por ti”. Sê maldito até o fim dos tempos! “‘“ O demônio respondeu com certa impaciência: “Não sabes o que dizes, e não calculas o mal que cometes contra ti mesmo”. Eu fui e continuo a ser a causa de teu bem-estar e de tua felicidade. Não foi minha existência a justificação da profissão que escolheste e meu nome, o lema de tua vida?”.

Pois é: acredito em Deus, rezo e, do meu jeito, tenho muita fé. Mas creio que vivemos essa dimensão divina muito mais interiormente que em adesivos de carros, camisetas ou chaveiros.

Acredito no Diabo também. Nessas "tentações" que se interpõem em nosso caminho para nos mostrar o que é realmente importante. Por isso não nego minhas dualidades. Por isso acho que ofender não significa, obrigatoriamente, odiar. Por isso temo destruir coisas que me são caras ao mesmo tempo em que me aproximo do que, dizem, deveria me afastar. Mas não posso ser só metade de mim.

Eu já reclamei várias vezes que sempre me envolvi com as pessoas "erradas", mas não existe ninguém errado nem ruim, só ruim pra mim. As pessoas podem ser ótimas pra alguém que tenha as mesmas expectativas de vida, mas eu não sou essa pessoa. Somos incoerentes, faz parte. E ninguém é culpado por isso, mesmo que a solução mais espontânea seja jogar a responsabilidade pra cima do outro, seja ele o Diabo, o ex-namorado ou o tempo.

Não creio que a simples introjeção de um conceito divino possa de alguma maneira, me livrar de problemas cotidianos, de desejos. Aliás, seria péssimo! Quero paz, alegria, felicidade e também o frio na barriga, a surpresa, o descontrole temporário. Posso ser louca, mas acho que só tenho consciência das minhas discrepâncias e não tento ignorá-las me escondendo atrás de dogmas e púlpitos.

Não que eu não tenha medo do perigo, do errado, do incerto. Apenas não posso ignorar que isso existe.

Mas, é claro, posso estar completamente errada.