Se tem uma frase da qual me valho com frequência, atribuída inicialmente a Platão, erroneamente, mas devida a Aristóteles quando fala das virtudes é “a virtude está no meio”.
É claro que a interpretação não pode ser desculpa para a mediocridade e o relativismo, mas é nos extremos que se encontram os vícios. Então uma rota de fuga, no que tange aos radicais, é um remédio preventivo. Saúde mental não se manipula em farmácias!
Procuro carregar uma balança mental, acionada vez ou outra, nas relações cotidianas. Algumas vezes, acabo tendendo para um dos lados, tenho uma quedinha pelos mais frágeis, vulneráveis, mas é raro, isenção é meu nome artístico.
Mas como miséria pouca é bobagem, entrei na onda, quer dizer, no campo de guerra emocional de um casal que competia, entre si, quem tinha mais defeitos.
Tudo ia muito bem até a quinta garrafa. Autocontrole é tudo! Mas... A sexta garrafa veio, e com ela a lavação de roupa suja. Máquina de lavar programada e a água começa a cair:
- Faz três meses que você não comparece na caverna e vem com esta conversa mole pra boi dormir. Cansaço profissional... O meu olho esquerdo conhece bem o direito. Engana que gosto...
- E você que vive de “cara de bunda” o dia todo. Talvez por isso seu traseiro não esteja tão atraente.
- Falou o Rodrigo Hilbert. Cozinheiro, gratíssimo que cuida dos filhos! Sai desse corpo, Rodrigo! Não te pertence! Me poupe.
- E você Rita Lobo de jardim. Só sabe fazer mato. Fitness de uma ova!
- Me respeita que não sou suas negas! Se precisar rodo a baiana.
- Não precisa ameaçar, já sei que você é barraqueira, Tati! Tati Quebra-barraco. Aliás, quebra barraco, vidro de carro, relógio, celular. Quebra tudo!
- Barraqueira, não! Lava essa língua pra falar de mim. Piolho de mexerica.
- Mas Mexerica tem piolho? Só se for as suas mexericas.
- Você não sabe com quem está mexendo. Não sabe. Daqui a pouco vai ver do que sou capaz.
E como se fosse cena de filme, começou a chorar desesperadamente, a mulher, dizendo que fazia esforço para fechar a tampa da pasta de dente, mas não conseguia. Já ele, nunca colocava o leite na geladeira.
Como não bebo, nem mesmo um vinho, talvez fosse a única sã, naquele lugar, e como se não bastasse a estupidez, a ignorância me fez intervir, antes que algo pudesse acontecer.
Eis que me levanto da cadeira e vou ser conciliadora da relação pós cachaça (lembrando que esse nome só pode ser usado no Brasil). Cheguei bem do ladinho dos dois e disse que ambos formavam um casal lindo. Que os vi como exemplo. O homem começou a chorar e de joelhos pedia perdão pra mulher que o ignorava. Até que como se nada tivesse acontecido, se abraçaram e começaram uma dança meio tango, meio valsa, forró, ao som leve de Marisa Monte. Caíram na gargalhada, Com juras de amor infinito!
No canto esquerdo, esperando o próximo show, estava eu, expectativa era grande: só o primeiro! Minhas amigas que sempre me levavam como motorista, fizeram suas apostas. E a brincadeira terminou no zero a zero. 
Mas nesse caso, o meio seria a única forma de sair dali, não o meio termo, mas o de transporte mais efetivo e eficaz.
Dei tchau para as garotas, deixei a chave do carro e chamei um UBER. Mas antes de sair, ouvi mais duas DR’s.  
Ou a pandemia nos tornou menos tolerantes ou a bebida tinha o pozinho da verdade, pra desespero total da plateia. Vai saber? Sei lá...



 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 12/09/2020
Reeditado em 13/09/2020
Código do texto: T7061712
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