Palavra Solta - depois da vidraça...

Palavra Solta - depois da vidraça...

*Rangel Alves da Costa

Ontem, aí sentado em meio ao quase silêncio da tarde, eu olhava o mundo sertanejo passando lá fora e ficava imaginando e imaginando... Vaqueiros e cavalos passando, pessoas caminhando nos seus afazeres do dia a dia, carros e motos com sua pressa de chegar. A ventania soprava trazendo poeira e pó. A radiola do Rancho desligada, melhor assim. Uma vidraça à minha frente, como se seu estivesse separado daquele mundo por um escudo. Mas eu tudo sentia e pulsava como se do outro lado estivesse, sentindo o meu povo passar, sentindo a minha gente falar, sentindo o que cada levava em seu pensamento. Mesmo sem caderno e lápis, eu tudo rabiscava nos rascunhos de minha mente. E descrevia aquela paisagem, pessoas e objetos, como a síntese de um mundo em sua transformação. Aquele asfalto era chão, aquela moto era lombo de um animal, aquele carro era um carro-de-bois, aquela menina bonita era uma mocinha carregando um pote d’água à cabeça. E amanhã, como será? Tudo passa, tudo passará...

Escritor

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