Ipê amarelo - Chuva de ouro.

Na avenida havia aquela carreira desta iluminação: lanternas em flores de ouro.  Quando chegava esta época do ano, entremeios de agosto e setembro fazia-se um caminho dourado – caminho para budas, satori.
 
Eu me sentia em sintonia quando subia a avenida com meu carro  ouro envelhecido. Era o Satori. Compreensão: Minha invenção para vencer o dia.

Mas havia aquela vizinha, que se dizia artista visual que começava a reclamar das flores caídas. Para mim era tapete.
Eu só  pensava: "como que ela não podia se sensibilizar com tamanha beleza?!
 
Existem artistas, ar puro,  e antíteses  por aí.

A mal-humorada morreu, os ipês foram carcomidos por larvas e tiveram que ser cortados. E eu estou aqui registrando estas vivências paradoxais. Natureza da humanidade e humanidade na natureza.
 
Quando os ipês foram plantados foi uma festa. Algo diferente acontecia na avenida. Além das árvores, o sistema telefônico também se modernizava e fios subterrâneos  eram instalados. Os ipês, árvores do cerrado, foram plantados em calçadas. Era a Ditadura. “Us homi mandô e tava mandado,  manda quem pode,   ubedece quem tem juízz” o clichê corria de boca em boca. Ninguém questionou a natureza daquelas árvores em aprofundar raízes e muito menos os desmandos do desgoverno. Ai de quem questionasse!
 
À medida que as árvores cresciam eu  punha a mão em seus troncos que engrossavam. Eu soliloquiava: “irá viver mais do que eu.”
 
Não demorou muito para os galhos se abrirem em braços. Logo lhe cortavam. Como as bocas que falavam eram silenciadas: Louco!
 
As raízes encontraram estruturas concretas. Apodreceram.
 
Eu tenho sobrevivido digerindo angústias. Escrevo.
 
Caminho para bundas pelas bandas daquela avenida.
 
#memória    #crônica   #poesia
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 04/09/2020.


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de 19 de Fevereiro de 1998.
 
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 16/09/2020
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