Desculpe-me

DESCULPE-ME

O pedido de desculpas é uma forma muito bonita de se dizer algo como: “peço que você entenda que estou arrependido do que disse ou fiz e peço que não se sinta ofendido com isso. Releve, por favor, este episódio e vamos continuar nosso bom relacionamento”. Resumindo, isso é o que quer dizer: desculpe-me.

Com o passar dos tempos esse pedido foi adquirindo outras conotações. Há o pedido de desculpas que tem exatamente a característica citada; há o pedido de desculpas que é só uma forma de acomodar as coisas e tocar em frente, não significando arrependimento pelo acontecido; pior, há a substituição do pedido de desculpas por uma demonstração de carinho. Isto é, não se pede desculpas, diz-se: “adoro você”.

Penso que atualmente há uma distorção no pedido de desculpas. É-nos (Temer, Jânio?) muito difícil reconhecer que erramos; que agimos de forma equivocada. Pedir desculpas é muitas vezes visto como humilhação. Então dá-se um tratamento afetuoso, entendendo-se que isso equivale a um pedido de desculpas, sem que nos sintamos tão desconfortáveis. A síntese disso é: “quero que você se dane, querido (a)”.

É uma pena! O pedir desculpas é algo tão bonito! Pedir desculpas é algo grandioso. É o ser humano se reconhecer falível; admitir que errou; e, humildemente, não humilhantemente, pedir ao seu próximo que o perdoe; trazendo, subjacentemente, a promessa de não repetir o erro.

Atualmente nos recusamos até a admitir que erramos diante de Deus. Não tenho base para entrar no mérito, mas até o Pai-Nosso foi modificado. Antes pedíamos perdão a Deus pelas nossas dívidas; hoje pedimos perdão a Deus pelas nossas ofensas.

Até onde conheço (e reconheço conhecer pouco), tomando-se por base o latim, o texto original era: et dimitte nobis debita nostra (perdoai as nossas dívidas). Bem, dívida é algo que se deve pagar. No caso, admitindo a hipótese de não conseguir pagar as dívidas, pede-se ao credor, no caso Deus, que as perdoe.

Hoje o que se reza é “perdoai as nossas ofensas”. Ora, ofensas não exigem pagamento; ofensas exigem apenas um pedido de desculpas. A coisa fica muito mais suave, no meu entendimento.

Sem falar que, atualmente, não se pede desculpas; ordena-se desculpas. Na verdade, o “desculpe-me” é um “desculpa-me”. Não é um pedido; é um imperativo. Não se tem o direito de não aceitar um pedido de desculpas. Não aceitá-lo é ofensivo; exige que peçamos desculpas por não aceitarmos o pedido de desculpas.

O pedido de desculpas virou uma fórmula para se tentar ter uma boa convivência. Não há a consciência que, mais do que pedir desculpas, devemos buscar não ter que pedir desculpas por nossos atos e palavras. A busca por nos tornarmos seres humanos melhores a cada dia fica em segundo plano. Qualquer coisa, um pedido de desculpas resolve.

Desculpem-me se estou soando rebarbativo. E ai de vocês se não me desculparem.

Maugo
Enviado por Maugo em 16/09/2020
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