As cem melhores crônicas brasileiras

Cansada de ficar em casa nessa pandemia, e já tendo lido quase tudo que interessava, resolvi visitar um sebo aqui em Caraguá, já que sou uma amante à moda antiga e aprecio uma boa leitura. Não estou dizendo que na atualidade não tenha coisa boa, é só uma questão de gosto por um estilo. Outro dia, navegando pela internet li que” um texto sem contexto é um pretexto para heresia”, eu não sei quem disse, mas concordo plenamente: há que se contextualizar. Por exemplo: as composições poéticas de Belchior tão recheadas de medo; os tempos eram outros muito diferente dos atuais. “Em terra de cego quem tem um olho é rei” Quem se atreve a contradizer os ditos populares? Nem que estamos vivendo entre uma plêiade de “ciclopes” . E comprovando essa tese, até eu me atrevo a rabiscar alguma coisa.

Mas voltando ao sebo, depois de me paramentar com uma máscara, e uma roupa que pudesse ir direto para a água sanitária quando voltasse, adentrei-me naquele paraíso e fui em busca dos textos poéticos: os meus preferidos, não nego. Mas quem me chamou a tenção foram “As cem melhores crônicas brasileiras” perdidas entre os poetas, e me pus a folheá-las. Que maravilha, já conhecia o trabalho da Martha Medeiros, mas confesso que “Pessoas habitadas” eu não li, na verdade, essa expressão “ pessoas habitadas” nunca havia nem lido e nem ouvido.

Quando peguei o livro com a estrutura “Dos cem melhores contos do século”, fui às últimas páginas, e, onde eu parei? Nas pessoas habitadas! Comecei a ler e de repente me vi diante da vendedora com um olhar que me dizia: __ Você vai ler o livro aqui, ou vai comprar, pagar e levar para ler em casa? Eu, que de zero ao finito da minha vida, transito pelos sessenta e um, senti-me como uma criança pega comendo frutas no supermercado. Peguei, paguei e fui embora entender melhor, quem são essas pessoas habitadas. Será que eu seria uma delas? __ Pensei na quantidade de personagens que já fazem parte da minha vida. Muitos deles chegaram antes dos meus filhos.

Em casa, fui correndo entender essa habitação que fez com que eu me esquecesse da possível roupa contaminada. Segundo a autora existe gente habitada, aqueles que são preenchidos de indagações, angústias e incertezas. Existe gente que tem gente em casa, são as pessoas que fazem a diferença; “ e, ainda, existe gente que não é habitada, que rapidinho coloca os outros para dormir”. Kkkk . O mais importante é a leitura, então vale qualquer loucura. Vira a página.

E eu que pensei que maluquice fosse coisa, só, da minha vizinha da direita, e não, não estou me referindo à ideologia, só a posição que a casa ocupa na quadra tendo a minha como um ponto dêitico . Ela costuma me dizer, com relação a da esquerda, quando esta se põe a passear com seu pato de estimação numa coleira.

__ Isso é coisa de gente que vive fora da casinha.

Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 17/09/2020
Reeditado em 17/09/2020
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