Kim

Certas declarações e determinadas atitudes humanas fazem pensar que nossos bichinhos de estimação é que sabem das coisas.

Meu cachorro, por exemplo, jamais se intrometeu na vida de ninguém. Nunca o flagrei em trapaças ou tecendo maledicências contra pessoa alguma. Raramente o surpreendi escondido ou espiando a vida alheia.

Bichos e humanos são muito diferentes mesmo.

Enquanto essa gente ilustrada ludibria e tece ardis, estes seres analfabetos oferecem unicamente a sinceridade do gesto.

Por mais que o ser imundamente humano faça, o ser bichinho perdoa e abana a sua alegria num rabinho arrebitado.

Decididamente, os cães não foram feitos para os jogos da mentira. Isso é coisa de gente.

Todos os dias é divisível um sorriso malicioso aqui, uma palavra de escárnio ali, olhares de soslaio, abraços de urso, beijos de Judas.

Atitudes distribuídas automática e diariamente, inclusive por quem freqüenta igrejas, critica a corrupção e abomina a falsidade.

Meu cachorro nunca se manifestou a esse respeito.

Nem precisa.

Eu sei o que ele está pensando, quando percebe a insinuação torpe rondando. E sei o que ele faria, caso a injustiça o acometesse:

-Levantar a patinha e urinar em cima-, disse-me ele, outro dia, com as duas orelhas em riste...

Zully Oney Teijeiro Pontet
Enviado por Zully Oney Teijeiro Pontet em 23/10/2007
Reeditado em 05/09/2011
Código do texto: T706875