O PATO DO JACELINO

Durante a o show “Festa junina”, do Clube do Camelo, em 2009, Mônica, minha esposa estranhou e reclamou ao ver o vídeo em que eu contava o caso do Firmino, ocorrido durante o ensaio.

– Porque falaste em serviçal? Devias ter dito que era nossa empregada!

A mim parecia muito natural, talvez por estar acostumado com os termos castiços de minha avó Vivi, portuguesa de nascimento. À Mônica talvez soasse estranho por sua origem humilde, da qual sempre nos orgulhamos, ela e eu.

De qualquer modo eu ainda prefiro serviçal, termo ligado ao serviço que sempre está vinculado ao trabalho, do que empregada, termo ligado ao emprego que, nos dias de hoje, nem sempre se vincula a trabalho.

Podem argumentar que serviçal está ligado à servidão, ou escravidão. Mas, ainda assim, prefiro este termo ao que possa lembrar emprego.

Mas, deixando de lero-lero, a história foi a seguinte:

O Firmino, insensível ao apelo meu e de alguns outros camelos, não ligados ao mesmo vício, não conseguia, como até hoje não consegue, passar mais que alguns minutos sem sorver a fumaça do seu cigarro. Despiciendas as piadas de mau gosto (pra ele) de que o cigarro é um cilindro com uma brasa numa ponta e um idiota noutra ou os exemplos mais sérios como o de nosso companheiro camelo Maranhão que, não fosse o cigarro, talvez até hoje estivesse nos brindando com sua voz e companhia. Escusado. Parece até que já tentou, mas nada o faz largar o costume.

A força do vício, do qual consegui escapar, apesar de experimentar na juventude, ou a desculpa dos outros exemplos de vidas longas apesar da fumaça, talvez o impeçam, como a outros tantos milhões de pessoas, de ter um mínimo de bom senso. Infelizmente para elas e felizmente para os fabricantes de cigarros.

O caso é que durante o intervalo de ensaio, entre uma e outra música, o Firmino dirigiu-se a garagem de minha casa e postou-se em frente à grade do portão para fumar.

A doméstica que trabalhava em casa há pouco tempo, lavava o pátio do segundo andar e jogou um balde de água suja da lavagem do piso, espumante de detergente, bem em cima da cabeça do fumante. A coitada ainda não estava acostumada com os ensaios do Clube do Camelo, nem com as escapadas do Firmino e Tobias para fumar.

Acho que o Tobias tinha ficado mais pra dentro e só levou uns respingos. Mas o Firmino foi atingido em cheio e saiu com o cabelo e camisa ensopados, sacudindo como um pato recém saído da água após um mergulho. Tive que conseguir toalha e roupas limpas para o “pato”. A doméstica escondia-se, com vergonha e medo de ser despedida. Nada aconteceu com ela. Afinal não teve culpa.

Como sói ao Clube do Camelo logo saiu uma letra de música, creio que do Eduardo, não sei ao certo, mas escondido do Firmino. Encomendou-se uma música para acompanhar a letra e registrar o fato. O Tobias prontificou-se a fazê-la e apresentá-la no próximo show, tudo ainda no maior sigilo. O Firmino não podia nem desconfiar. Como era de se esperar do Tobias, foi gerada uma bossa nova.

O Show iniciou com o Firmino servindo de mestre de cerimônias. Falante, como sempre, o apresentador espantou-se quando, lá pelo meio do show, não permitimos que ele continuasse com o falatório e chamamos o Tobias para, acompanhado de seu violão, cantar uma música. Via-se a cara de espanto do Firmino, pois aquilo não estava no script.

Para que a platéia não ficasse sem saber tive que explicar o fato que a letra da música contava. Aí é que saiu o termo “serviçal”, que ficou permanentemente registrado no CD do nosso show. Felizmente, de um tempo pra cá, temos o costume de registrar, em CD ou DVD, todas nossas apresentações.

Aproveitando o apelido de Jacelino dado ao Firmino, já esclarecido no nosso livro anterior, o Antonio Tobias (Tonico) interpretou magistralmente “O pato” ao som dos risos e aplausos da platéia:

O PATO

(Antonio Tobias e Eduardo Queiroz)

Engraçado o Jacelino

Sacudindo feito pato

No baita banho que lhe deram

Molharam até seu sapato

Foi maldade do Tonico

Ou inocente brincadeira

Levar o amigo pra fumar

Bem embaixo da biqueira

H2O misturado

Com creolina e Q-boa

O que vou dizer em casa

Para os filhos e a patroa

Isso é muita sacanagem

Coisa igual, eu nunca vi

Nunca mais eu vou fumar

Na garagem do Almir