Trópico de Touro VII

Há de se ocupar todos os espaços (de minha caderneta), cada espaço esconde em si uma ideia, puxa um fio, costura um fio, forma um tecido, tudo está interligado, é uma ideia que faz sentido para mim. Tremenda estupidez não ter esperança. A cada tentativa uma nova porta e uma nova janela se abrem. Ação meus amigos, eis a palavra! De alguma forma eu ainda terei um filho, um segundo filho quero dizer, pois já tenho meu filho amado Jeremias, que completou quinze anos. Eu o amo muito, mas estamos um pouco afastados; eu dizia que pressinto um filho novo, e surfaremos novas ondas juntos, Jeremias, o filho que está por vir e eu. Amém! Som para hoje: Roots Radical – Rancid. Outro som: I want love u madly – Cake. Hoje é o terceiro dia de abstinência do uso diário, intenso e compulsivo de maconha. Está é minha jornada em direção à cura. Assisti ao filme Touro Indomável com de Niro e Joe Pesci. Quarto dia limpando o coração, corpo e mente. Estou escrevendo agora agradecendo à Deus de todo o coração, pela minha vida, porque estou respirando e toda aquela loucura vai se acabando. Ao chão o Gênesis de Robert Crumb. Amanhã meu pai irá ao Hospital das Clínicas para realizar alguns exames pré operatórios. Sei que tudo, absolutamente tudo, correrá bem. Estar sóbrio é melhor do que estar chapado de MARYJUANA. Hoje é o quinto dia desta porra toda! Estou tomado por uma enorme irritabilidade, especialmente uma espécie de irritação futebolística por causa do SPFC, acho que não quero mais saber de futebol por uns anos...minha vida anda muito repetitiva e agora, um pouco mais sóbrio, consigo pressentir uma vasta montanha a ser explorada.

Animalzinho curioso é o vombate australiano. Eu nem te falei a vertigem que se sente. Muitas pessoas têm perdido a esperança, a mim parece óbvio que o mal não perdura para sempre e que de qualquer forma daqui cem anos tudo terá passado. Ir ao sacolão me fez sentir os cheiros das frutas e verduras, me remeteu a lembranças familiares, de casa. Onde voltamos sempre, senão para casa? Reli o conto O Capote de Gógol, senti algo estranho, uma sensação de que o protagonista Akáki estava vivo enquanto lia a sua história, então não me senti, por um instante, terrivelmente sozinho, tinha um amigo que vivia isolado e que sua existência não era notada, mas um amigo admirável pela sua incrível resiliência. Sexto dia. Sexta-feira da paixão, tenho uma nota de vinte reais, usei-a para pagar a passagem de ônibus e do metrô, sobrou um troco que deixei na mão de dois artistas de rua, uma moça belíssima fazia um número musical dançando com um bambolê. Lamento profundamente não haver a incidência de nuvens enrugadas em São Paulo, aqui não se formam as asperitas! Tirei algumas fotografias de nuvens que me pareciam bastante interessantes, nuvens escuras, volumosas, encantadoras, mas, não eram as raras e magnificas Asperitas!

Homem de preto
Enviado por Homem de preto em 29/09/2020
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