COMO VEMOS E COMO SOMOS VISTOS

Aos trinte e seis anos entrei para o serviço público. A função que exerci, às vezes penso que foi uma dádiva Divina, pois mesmo tendo sido dificílima em algumas oportunidades, deu-me uma experiência muito boa na questão do relacionamento com as pessoas e entre as pessoas de modo geral.

Convivi profissionalmente com gente de todas as vertentes existentes na sociedade. De todos os níveis das autoridades locais aos mais humildes, aos marginalizados, incluindo detentos e menores infratores, mais perigosos ou inofensivos. Encontrei todo tipo caráter em todos os meios que citei.

Encontrei entre as autoridades algumas que mereciam estar encarceradas e algumas que mereciam ser muito maiores do que eram. Encontrei também entre os criminosos, almas que não justificavam os seus procedimentos.

Estou aposentado há cinco anos, sei que tem muita gente que me estima e sei também que existem alguns que talvez me odeie, ossos do ofício, como se costuma dizer.

Quando cheguei na minha cidade, topei com algumas situações que me fez conhecer uma moça, a qual eu achava uma das mais lindas daqui. Não me conformava com os relacionamentos dela. Ela transparecia ser uma pessoa de boa índole, mas convivia com gente que era trabalhadora mas também desonestas a ponto de ter sérios problemas judiciais.

Em uma ocasião ela, não sei detalhes, se envolveu com um sujeito em uma sociedade e se deu mal.

Ela, por não entender que o funcionário da justiça somente cumpre o seu dever, acredito que guardou um grande ressentimento, para dizer pouco, demonstrado no seu olhar de ira toda vez que me encontrava.

Felizmente a vida dela mudou para melhor. É proprietária de uma loja e de vez em quando tenho que comprar alguma coisa lá.

Aquele olhar de ira não existe mais, mas ela finge não me conhecer e eu faço de conta que também não a conheço.

Talvez ela tenha compreendido, talvez venha a compreender, talvez não compreenda nunca, que a vida é feita de erros e acertos, que podemos julgar se quisermos, mas que também podemos ser julgados pelos outros, e de nada valerá nos acharmos inocentes. Valerá muito para a nossa consciência, o que não é pouco.

Esse caso é uma pedrinha no meio de uma praia de acontecimentos.

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JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 30/09/2020
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