Caco de mim

Existem coisas na vida bem encaixadinhas, que quando a gente encontra, sabe que foi feito para si. Eu não sou uma delas. Aqui dentro só tem peça quebrada, entulho e chorume. É tudo podre, desfuncional, imaginativo, mas dá mente de um serial killer. É assim mesmo: tudo ou nada, oito ou oitenta. E eu tenho sido oitenta há um bom tempo, acredite.

Por favor, não me entenda mal, não é você, sou eu. Não sou o destino, não sou premeditada, não sou o objetivo. Eu sou o meio, sempre, jamais o fim. O avião, o trem, o ônibus, o taxi, a ponte... Bem, talvez não o táxi. Taxistas me dão nos nervos. Mas, eu posso ser o Uber, certo? Anota aí que eu sou o Uber, então. A verdade é essa: sou a trajetória entre você e o felizes para sempre, apenas a viagem e não o destino final, compreende? Relaxe e curta a vista.

Agora, sinta-se em casa e seja muito bem-vindo, aqui não tem frescura não, é só chegar. Ah, só lembre de tirar os sapatos na entrada, tudo bem? Pra pisar em mim tem que ser descalço, sem medo dos pregos e dos cacos de vidro.

Ladra de Tinta Seca
Enviado por Ladra de Tinta Seca em 30/09/2020
Reeditado em 30/09/2020
Código do texto: T7076295
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.