A TECNOLOGIA DO OLHAR

Gosto de coisas simples, sentir a terra nos pés para mim é recompensador, cheirinho de café sendo coado, não vale na cafeteira, é melhor que roupa de grife. Já fiz alguns planos para velhice, nada de viajar, dar volta a o mundo... Quero alimentar os pombos em algum banco de praça, escutar o sino da igreja e olhar de quantas folhas caídas é feita uma tarde.

Por isso que gosto tanto do poeta Manoel de Barros, no fundo também sou um menino que gosta de carregar água na peneira, esses despropósitos para mim valem mais que tecnologia de ponta, mas prefiro não ficar anunciando essas coisas por aí, vou caminhando nessa corda bamba entre o respeito e o hi-tech, caindo aqui e ali.

Esses dias cheguei ao trabalho e vi que alguém teve a delicadeza de colocar pequenos vasos de flores sobre as mesas, não sei ao certo que flores são, gosto das flores como se fossem pessoas, se chamando Maria ou Aparecida não faz a mínima diferença. As flores são beijos de Deus e alegram o ambiente, aquela semana ficou mais bonita.

Acho que os gestos de delicadeza têm de ser valorizados e multiplicados. Já pensei que as escolas deveriam ter aulas de delicadeza, mas cheguei à conclusão que a delicadeza brota na essência das pessoas, não é coisa que se fabrica ou ensina e se virasse matéria seria a coisa mais chata do mundo.

A escritora Cora Coralina, maestrina da delicadeza, disse que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos os corações das pessoas. Hoje tocamos tanto na tela de aparelhos, mas coração que é bom qual nada. Eis o desafio: tocar o coração das pessoas. Às vezes só é preciso um olhar para conseguir isso, outras, no entanto, é necessário investir em um bom maço de rosas.