OSNEI, UM PICTÓRICO DO OUTRO MUNDO

Pintar paredes era apenas um pretexto para Osnei se aproximar do que mais amava, as pictóricas obras de grandes artistas de todos os tempos. Ralava forte e, sempre que sobrava algum, investia em publicações de artes cubistas e modernistas do peso de Tarsilas, Anitas e Picassos. Expoentes do porte de da Vinci, Monet, Toulouse-Lautrec e Gauguin brilhavam também em sua constelação de favoritos.

Os amigos do pintor Osnei, da pequena Apucarana, no Paraná, até o convidavam para pescar na barrancada do Rio Tibagi, nos finais de semana. Mas ele arregava. Dourados e mandis não o inspiravam tanto quanto seus pincéis e tintas. Ladeado pela onipresente bombilha de tereré, dava o máximo de si para rafear o seu melhor, idealizando belos pantones. Tudo parecia sob controle naquela bela e ensolarada manhã. De início, avaliou a luz e a sombra sobre o arvoredo, buscando matizes únicas. Contudo, assustou-se ante a visão de dois sóis no céu, que brilhavam intensamente.

Confuso, considerou a hipótese de uma ilusão de ótica. Esfregar os olhos não dissipou a visão da segunda luz que iniciou uma trajetória descendente rumo ao descampado próximo de onde havia estacionado a sua moto. Assustou-se diante daquilo e quis correr, todavia um calor intenso o imobilizou, seguido de um forte clarão. Um zumbido por pouco não o fez desmaiar. Poucos segundos após o insólito episódio, permitiram a Osnei avaliar o que se passara à sua volta. Acalmou-se; sua tela e tintas estavam no mesmo lugar.

Pegou a bombilha de tereré e sorveu sedento o conteúdo. Olhou para o céu e nada dos “sóis”. Seu celular indicava o horário: 16h30. Atônito, arregalou os olhos sem nada entender, afinal, minutos antes, imperava uma linda manhã. Decidiu então recolher tudo e rumar de volta para casa. Lá chegando, jogou as chaves sobre a mesa de canto e inexplicavelmente sentiu um súbito impulso de pintar. Abraçou seus pincéis e tintas e bailou sobre a tela. Mas, algo o incomodou; sua visão ficou turva e um sono indomável o fez parar.

Acomodou-se sobre uma poltrona azul e adormeceu. Acordou bem mais tarde e, para seu espanto, o relógio acima do armário indicava 2 horas da manhã. Pôs-se de pé num pulo e rumou para a cozinha, onde tomou um litro de mineral num gole só. Voltou para a sala e recostou-se novamente na poltrona. Coçou a cabeça e teve a sensação de ter visto algo estranho. Sua visão periférica revelava algo. Seus olhos esbugalharam e seu queixo despencou sobre o peito. Levantou-se e voou para diante da tela recém- pintada.

UAAAU! Como isto é possível? Era a perfeita visão da épica Monalisa de da Vinci. Nada fora do lugar, e tão memorável quanto a obra original do artista. Beliscou-se repetidas vezes sem entender patavina. Eu pintei isso?! EU?! Osnei? Um reles pintor de paredes com ímpetos pictóricos? Seguiu, madrugada adentro, saboreando “La Gioconda” com os olhos sem parar, até o raiar do dia. Às 08h00 ajeitou-se, pegou sua moto e partiu com a tela para uma galeria do centro de Londrina, onde um curador analisou assombrado “a sua pintura”. Havia ali uma réplica, ou seria um original?

Osnei foi levado para São Paulo, onde agendaram entrevistas dirigidas a todos os meios de comunicação. Da Itália, veio um grande e notável mestre curador, tido como profundo conhecedor de tudo relacionado ao mago do Renascimento Italiano, que sentenciou: “Todas as pinceladas conferem.”, e foi confirmada a autenticidade da citada “La Gioconda”. A polêmica ganhou o mundo e Osnei virou celebridade. Muitos aventaram a possibilidade de o brasileiro de Apucarana ser a reencarnação de Leonardo da Vinci.

Cientistas e místicos quiseram ouvi-lo. Osnei acabou por revelar que havia sido exposto a uma luz e mantido um contato com uma nave-sol extraterrestre. Devido ao relatado, houve uma onda de ceticismo que levou ao descrédito do brasileiro. Osnei exauriu-se diante da maléfica polêmica e sem que fosse notado retornou frustrado ao Brasil, onde refugiou-se de tudo e de todos.

Não acreditavam nele, e nem ele próprio tinha certeza de nada. Não entendia o que de fato tinha se passado em sua vida. Sumiu do mapa, e muitos dizem tê-lo visto pelas cercanias da represa de Capivara. Outros, o avistaram numa das ilhotas do Rio Tibagi. Alguns, contudo, dizem que Osnei era um ET… e por isso zapeou pelo cosmo, a bordo de sua nave para nunca mais ser visto.