LEMBRANÇAS DA CASA VELHA II

LEMBRANÇAS DA CASA VELHA II

Nelson Marzullo Tangerini

Estou ainda folheando o velho caderno encontrado na casa velha. E, maravilhado, olhos fixos em velhos escritos, vou revendo as anotações que fiz no final dos anos 1970, num passado longínquo, portanto.

“Pra não dizer que não falei de flores”, limitar-me-ei, agora, a escrever sobre coisas amenas, belas, ligadas à arte literária; afinal, Jean Giono, escritor francês, nos lembrava que “O poeta deve ser um professor de esperança”.

Quase na mesma linha, inglês Percy Bysshe Shelley sustentava a tese de que “Os poetas são os legisladores não reconhecidos do mundo”.

Jean Maurice Eugène Clément Cocteau, poeta e romancista francês, lembrando os velhos poetas românticos faz um raio-X den quem foi contaminado pela poética: “Ninguém ignora que a poesia é uma solidão espantosa, uma maldição de nascença, uma doença da alma”.

Sobre o poeta inglês John Milton, na mesma linha de raciocínio, o escocês Thomas Babington MacAulay, também poeta, diz que “Talvez nenhuma pessoa possa ser um poeta, ou mesmo apreciar poesia, sem uma certa enfermidade da mente”,

O poeta gaúcho Mário Quintana, em seu livro in ”Caderno H”, escreve que “Ser poeta é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecida dentre todas as outras”.

Samuel Johnson, poeta inglês, acreditava que “Para o poeta, nada é inútil”, enquanto seu conterrâneo Gilbert Keith Chesterton sustentava que “O grande poeta existe para mostrar ao homem pequeno como este é grande”.

Maravilhado, sigo folheando o velho caderno, tentando imaginar o que pensam os poetas e como o poeta se sente, quando descobre que foi tomado pelo vírus da poesia.

Esbarro no francês Victor Hugo, autor de “Os miseráveis” e “Os trabalhadores do mar”, entre inúmeras poesias. Sempre antenado nos problemas sociais de sua época, um capítulo à parte na literatura romântica, escreveu que “O poeta é um mundo encerrado num homem”, deixando claro para nós que a universalidade e a preocupação com os problemas do mundo são fundamentais para a grandiosa escrita literária.

Passo por Florbela Espanca, autora portuguesa, autora do belo soneto “Ser poeta”, que define, nos dois primeiros versos, a magnitude daquele que foi tomado pela poesia: “Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que todos os homens".

Jacques Anatolle François Thibault, mais conhecido como Anatolle France, escritor francês, talvez tenha sido mais duro em sua definição: “Os poetas ajudam-nos a amar: só servem para isso".

Deixou-nos Octavio Paz Lozano, mexicano, um dos maiores poetas do século passado, Prêmio Nobel de Literatura em 1990, uma das mais belas definições sobre o fazer poético: “La poesia revela este mundo: crea outro. Pan de los elegidos, alimento maldito. Aísla; une. Invitación al viaje; regresso a la tierra natal. Inspiración, respiración ejercício muscular. Pegaría al vacío, diálogo com la ausência: el tédio, la angústia y la deseperación la alimentan”.

Carlos Drummond de Andrade, o gauche de Itabira, MG, que estava sempre em estado de graça, mostrou-se grande, quando se viu diante da ausência e fez poesia, inundando por inteiro a sua vida.

Os portugueses entendem bem isto: Fernando Pessoa, com suas muitas pessoas e, ao mesmo tempo um eterno solitário a andar por entre a gente, à maneira de Florbela Espanca, escreveu que “ser poeta não é uma ambição minha, é a minha maneira de estar sozinho”. Porque, circunspecto ou estranho, o poeta, através de sua lente aguçada, é um grande observador, além de ser, também um fingidor.

Em crônica futura, falarei sobre as frases referentes à música encontradas no velho caderno, por este velho escritor na casa velha de Piedade.