O Silêncio Que Nos Cala

E se o silêncio fosse um de nós? Seria tão tímido, tão acanhado. Recolhido na parede do corredor.

Um olho na tela, outro olho nas caras, ouvindo as fofocas do dia. Burburinhos. Mau-olhado.

A cidade cresce, as pessoas crescem com ele. E o silêncio, só a contemplar nossa inquietude.

Mas quando vou cutucar nele até finalmente abrir a boca, você não sabe o poder que ele tem…

Não faz a mínima ideia!

O quão ensurdecedor é o seu grito! Quando fala, dá as mensagens mais profundas, mais sinceras, mais diretas, do que já ouvi de muitas bocas. Um exemplo!

A profundeza em seus olhos escuros como o escuro da fuligem em nossa alma, profundos como o mar que azula o globo.

Quando quer te acalmar, ou quer rebelar-se, diz tanto. Mas tanto! Daria uma bíblia, uma enciclopédia, dicionário, quem sabe.

Tentativa de somar mais palavra em nossa fala. Fala incompressível, não pertence a este mundo.

Isso mesmo! Como Deus! Não sabemos tudo que é divino. Mas temos a mania de nos fascinar com tudo o que não entendemos.

Ele deve ser taoísta, budista, não sei. Verdadeiro zen. Um sábio de poucas palavras, aliás, nenhuma. Passa uma calmaria…

Ensina a reagir, não reagindo. A pensar, não pensando. A ouvir o que insistimos em não ouvir. Escavar tesouros que insistimos em esconder.