A saúde nossa de cada dia

Eu estava indo até a casa de um amigo meu, conhecido já de longa data, a nossa liberdade de expressar foi sempre muito autêntica, por isso podíamos dizer um ao o outro o que quisesse, até sem medo de uma ofensa que poderia acontecer.

Esse meu amigo, Jotasaf, havia sofrido um acidente de carro que por sorte, não foi fatal, eu refiro a expressão sorte, porque todos nós temos os nossos momentos e conforme o caso pode nos afetar até os nossos dias finais.

O acidente foi quando Jotasaf estava na estrada dirigindo seu carro, quando de repente aquela curva que muitos motoristas esquecem que pode ser perigosa e lá foi o carro dando uma cambalhota. Foi hospitalizado, segundo os médicos, um traumatismo mas não havia mais consequências, podia viver uma vida normal novamente.

Logo que cheguei em sua casa para visita-lo, sua esposa foi logo dizendo:

--- Jotasaf está fechado no quarto, indignado com tudo que é santo, faz dias que não quer nem se alimentar direito.

Sem mais delongas, bati na porta do quarto e entrei logo dizendo:

--- e aí, meu amigo, como está?

Ele me diz:

--- dá pra notar, né do jeito que estou. Essas dores que não passam, vou ter que tomar remédios pro resto da vida, caramba? Não dá vontade nem de trabalhar e os médicos dizem que depende de mim pra levar a vida para frente!...

Eu catando alguma coisa pra dizer e disse:

--- muitas coisas nessa vida devemos tolerar. Ele dá um suspiro e me responde:

--- tolerar? Você me diz isso porque está vendendo saúde, talvez nunca sentiu dor. Não é fácil não, rapaz.

Eu estava naquele marasmo mesmo, então arrisquei mais uma cartada tentando explicar o desenlace desta vida para Jotasaf, comecei com os exemplos mais elementares que seria minha própria experiência:

--- acontece, meu amigo que eu não vendo saúde, rsss...rss... vou te contar uma parte de minha história:

Tinha bem mais de 30 anos, sem mais nem menos sentia uma dor insuportável no estômago, as cólicas eram terríveis, meu médico pediu um exame de endoscopia, resultado: comprovação de uma úlcera, o procedimento imediato foi uma cirurgia. Após a cirurgia no leito hospitalar o médico me fala para ficar tranquilo porque não era câncer e da úlcera eu estava livre para sempre.

De fato as dores não senti mais. Passados outros muitos anos, fui fazer exames de rotina com um urologista, não sentia nada aparente, mas depois do famoso exame do PSA, e ter que fazer o tal exame de toque (exame que a maioria de nós homens temos o pavor!) aí não deu outra: câncer na próstata, um outro urologista meu amigo me fala abertamente:

--- você é religioso? Respondo:

--- mais ou menos, porque?

--- porque sempre é bom ter essas ajudas lá de cima. Eu até posso afirmar que fazer uma cirurgia radical, (retirada completamente da próstata) vai resolver completamente, mas, (na nossa vida às vezes esse “mas” é necessário) você terá incontinências urinárias logo depois da cirurgia, poderá ficar impotente por alguns meses.

Eu já apavorado disse:

---espere aí, doutor, não é melhor deixar como está?

Acho que prefiro ver São Pedro!

--- pode ficar tranquilo depois voltará tudo ao normal.

Com a minha pausa, Jotasaf, logo perguntou:

--- ficou tudo normal mesmo?

Sim ficou tudo normal sim, mas passou outros anos e tive mais um acidente na coluna, sofri um traumatismo do cóccix (parte final da coluna) dores e mais dores, o ortopedista me disse:

--- algum tratamento sim, mas o seu caso não tem cura.

---E aí meu amigo Jotasaf, o mal maior que o ser humano possa ter é na mente, se a mente ficar doente todo o corpo sofrerá.

DEPOIS DISSO CREIO QUE O COMEÇO DE DEPRESSÃO QUE DAVA INÍCIO NESSE MEU AMIGO, NÃO CONTINUOU...