Comprei um diário. Os invejosos dirão se tratar de uma loucura, já que seria a prova física de confissões de um passado.
Não creio que uma mera mortal que paga as contas contando as moedas, numa cidade de 120 mil habitantes, no interior de Minas, seja tão atraente como a Kim Kardashiah. Nem preciso citar as características físicas poderosas da famosa: cintura fina, quadril largo e peitão americano. Essa competição é injusta, vou mudar de assunto.
E por falar em centavos, o diário é uma espécie de caderneta para treinar a mente a trabalhar a meu favor. Não que a domine em partes, mas sejamos realistas coerentes: anotar ajuda a se convencer, se não, ao menos a se disciplinar.
Se a riqueza se dá mediante a inspiração natural confesso: minha mente milionária é adolescente. Intransigente, ríspida, imatura e pensa que conhece a própria realidade. 
Uma mente milionária birrenta capaz de criar uma batalha cerebral acirrada entre a luta e a glória. Não posso aceitar esse sequestro: nasci para ser princesa, vestidos longos brilhantes, sombrinhas delicadas, e muito, muito dinheiro! Mas a abusada e desajustada não segue a linha reta que criei para ela, adora uma curva sinuosa e S. Vez ou outra entra numa bifurcação, tua sem saída...
Mas, enfim, se até o Coach brasileiro da mente milionária, um dos maiores nomes das redes sociais da atualidade, com um número de seguidores expressivamente volumoso está vivendo tempos difíceis (não pagou suas dívidas, teve seus bens bloqueados e é acusado de plágio) por que, em meu diário, deveria usar a inscrição: “Você cria e sua mente realiza? Tudo pode! “
Tudo pode, nada! A verdade é que estamos cada vez mais próximos da pior realidade. O problema do Brasil não é o presidente que cospe arco-íris em formato de pizza hot com bordas de queijo fresco, nem o governador que tira do Covid 19 e coloca em conta própria que não é poupança, nem do banco que fica feliz em criar o PIX (se o banco está feliz, corre!), menos ainda do clube de futebol que gasta 1/4 do seu 1/3 e depois míngua com os jogadores na terceira divisão. 
O problema do Brasil é o brasileiro que chama urubu de meu nego (não é meu loro) e faz cócegas no animal pra matá-lo. O problema do Brasil é o jeitinho que torna, uma minoria sem caráter, deuses, mitos, salvadores da pátria! 
O que impera no Brasil é o charlatanismo entre aspas ou o estelionato entre parênteses (lê-se parente também) e já perdi a paciência com este diário, vou jogar fora. Ou anoto ou faço. Prefiro o segundo.
Mente milionária? Só se for do Coach desmascarado em rede nacional pra provar que a mente “mente” (do verbo enganar, ludibriar). O resto é mente pobre, digo, mente empobrecida por falta de valores éticos, na maioria. Deus me livre! 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 10/10/2020
Reeditado em 10/10/2020
Código do texto: T7084169
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