O SUMIÇO DO JOSÉ

O Sr. José garantiu a prensagem de 2000 CDs.

Os mil exemplares do primeiro CD, feito com a vaquinha dos 10 participantes, já estavam quase esgotados.

O patrocínio do segundo CD foi um achado. Um golpe do destino, daqueles que só acontecem uma vez em cada cem anos. Todos estavam felizes. Se no CD anterior sem nenhum esquema de vendas ou divulgação já se conseguira alcançar um resultado razoável, imaginem agora, com tudo dentro do figurino.

O Firmino já imaginava o estouro nas vendas do CD. O Eduardo em comprar um fusca de segunda mão com o rateio das vendas. Todos estavam enfim esperançosos. O Firmino já andava querendo até vender os direitos autorais de sua música Pranto divino para a Prefeitura como hino oficial do Natal de Belém.

A gravação saiu legal, embora com uma qualidade ligeiramente inferior à do primeiro CD, mas só perceptível para os ouvidos extremamente exigentes. O repertório foi primoroso. O meu tinha a "Amoratória", uma mistura de amor com moratória, também meu, com melodia do Gervásio, a "Moreninha do Acará" e o "Pranto divino " do Firmino, a primeira música de Natal genuinamente paraense, pelo menos que nós soubéssemos, pra mim uma beleza, embora com algumas restrições no grupo, além de mais treze do Dantas, Edyr, Gervásio e Eduardo. O patrocinador pagou as duas mil cópias direitinho pro Tynnôko, embora com alguma dificuldade de encontrá-lo nas horas necessárias.

O entrave primeiro surgiu após a conclusão dos serviços iniciais. O seu José sumiu. O Firmino telefonava e nada! Os negócios o prendiam no interior, principalmente em Santarém, onde parece que tinha uma filial. O CD mesmo ficou esquecido.

Nas conversas preliminares ele pretendia montar um esquema de vendas e ainda tirar lucro do empreendimento, pois havia endeusado a qualidade do primeiro CD. Que vendas que nada! As vendas agora foram menos organizadas ainda do que do primeiro CD. Os Camelos, cada um tinha sua atividade principal e a música, embora de qualidade, era só um hobby. Tempo para organização de vendas, nem pensar. Eu, o Firmino e o Pepê, ainda tentamos algo, mas sem sucesso. Daí em diante começou a parecer que o financiamento era mesmo só remorso da batida do carro. Agora que já tinha sido feita a lanternagem e não havia nem sinal da batida, parece que tudo tinha sido esquecido.

A segunda complicação foi na entrega do CD. Começou a atrasar e só saiu pelas constantes viagens do Tynnôko a Manaus a serviço. Mesmo assim só vieram 900. Faltaram 1100. Ou foi ao contrário, nem me lembro! Após três anos, já entrando no terceiro milênio, ainda não recebemos o resto.

Mesmo assim fizemos o lançamento. Um coquetel no Olé-Olá para duzentas pessoas. Foi onde vendemos mais CDs de uma vez só. Quase cinquenta. O show foi no teatro Gabriel Hermes. O Kzam com seu baixo teve um trabalhão para, junto com o Gervásio, Tynnôko e os outros, colocar tudo dentro do figurino.

Ensaiamos direitinho e preparamos algumas surpresas para o nosso padrinho José, que como sempre não apareceu.

Como o nosso interesse principal era a música pelo simples prazer que ela nos proporcionava, levamos o caso na gozação e saiu mais uma:

ONDE ANDA O JOSÉ?

(Almir Morisson e Eduardo Queiroz)

Onde está meu padrinho

Faz tempo que não o vejo

Tão triste eu estou

Esperando sentado

O CD estourado

Que o Firmino falou

Nossa agenda repleta

E um fusca pro poeta

Não andar mais a pé

Onde está meu padrinho

Faz tempo que não o vejo

Procurei feito louco

Perguntei ao Tynnôko

Onde anda o José

Será que deu no pé?

Pra encurtar a história

Vou pedir moratória

Pois não deu pra pagar

O vestido de chita

Da morena bonita

Que nasceu no Acará