PÃO

As mãos divinas possuem o poder da bênção. Elas são fontes de criação. Elas têm o poder de criar e proteger a vida. Elas semeiam a boa semente que germina abundantemente na terra fértil. A semente evolui em planta que gera o grão, que por sua vez se forma, amadurece e adquire seus nutrientes específicos. Aos nossos olhos, um fenômeno óbvio da natureza. Do grão, o trigo, ao alimento, o pão, uma metamorfose milagrosa, cujos seus detalhes levam-nos a percepção da riqueza, da importância e dos valores incontestáveis contidos nela. Desde do plantio e o processamento da farinha à partilha na mesa, o nosso alimento nutritivo e sagrado nos proporciona histórias que mexem com as nossas emoções e sentimentos. Após meses de uma labuta árdua e perseverante, o produtor agrícola de joelhos ao solo, braços erguidos e olhar fixo aos céus, manifesta sua gratidão a Deus pela safra garantida. Se nos atentarmos às atividades praticadas pelo agricultor desde o plantio até a colheita, perceberemos o quanto é significante sermos solidários a esse herói. Os trabalhadores da indústria alimentícia que desafiam em cada dia de trabalho a incansável tarefa de disponibilizar os produtos nas gôndolas dos moinhos e das fábricas, nos orgulha de tamanha disposição. O grupo de pessoas que compõe toda estrutura logística, que mesmo com todas adversidades existentes, tentam atender o roteiro de entregas de forma impecável e infalível, desde a origem ao destino, merece a nossa gratidão. A rede comercial também participa desse ciclo com uma importante parcela de contribuição. Ela anuncia, promove e finaliza a incrível jornada de todos provimentos essenciais para sustentação alimentar da população. Os confeiteiros, os padeiros, os quituteiros acrescentam uma porção de bons sentimentos aos ingredientes e na massa que descansa nos tabuleiros de uma fria e sisuda linha de produção. Nas embalagens ilustradas com figuras sugestivas, eles adicionam também uma boa pitada de carinho, que conquistam os gostos e os corações de seus clientes mais fiéis.

Lá vem o pão, vejam o cesto cheio, ouçam a buzina e o grito “ó o padeiro”, sintam o aroma no ar, põe na mesa a manteiga e o café “feito na hora". Lá vem o seu Zé com o jornal debaixo do braço e nas mãos um embrulho umedecido pelo vapor dos pães quentinhos. Lá vem o garoto na sua magrela com um real daqueles que “acabaram de sair do forno”, acomodados em uma sacola pendurada no guidom. Lá foi o operário, bem cedinho, com seus três pacotes lotados para o desjejum de seus amigos guerreiros que trabalham na construção do novo empreendimento do bairro. A copeira daquela empresa que se instalou no prédio de quatro andares e fachada recém reformada, já se acostumou levar seu pacote também nesse mesmo horário. Lá vêm os garis na sua correria diária, mas com um tempinho para tomar o “pingado” com o “passado" na chapa oferecido pelo dono do boteco da esquina. Depois da primeira viagem que se iniciou pela madrugada, lá estão os motoristas de ônibus no ponto final, naquela praça tranquila, tomando o “café preto” no copo descartável e estalando o cascudo entre os dentes. Lá foi o estudante confiante em busca de conhecimento, após saborear o pãozinho com café e leite servidos com amor e carinho por sua querida mãezinha. Lá está a vovozinha sentada no seu banquinho de madeira no terreiro daquele casebre em um vilarejo do interior de Minas, mergulhando o miolo do pão de ontem numa caneca de café quente.

Que o pão em suas mais diversas formas continue por muito tempo entre nós. Viva todos pães, exceto o pão duro. Viva o pão francês, o pão italiano, o pão suíço, o pão árabe, o pão sírio, o pão australiano, o pão de queijo, o pão de batata, o pão de milho, o pão de aveia, o pão de centeio, o pão de alho, o pão doce, o pão de mel, o pão sovado, o pão de hambúrguer, o pão de cachorro quente, o pão croissant, o pão brioche, o pão baguete, o pão bisnaguinha, o pão de rabanada, o pão com linguiça, o pão com ovo, o pão na chapa, o pão de forma, o pão artesanal, o pão cascudo, o pão de leite, o pão preto, o pão de ló, o pão de ontem, o pão fresco, o Pão Vivo e o Pão Nosso de cada dia.

Sílvio Assunção
Enviado por Sílvio Assunção em 17/10/2020
Código do texto: T7089714
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.