BEM QUE TENTEI...

Às vezes somos surpreendidos com presentes que para uns passam despercebidos, e tem sua importância desvalorizada, mas que para nós são verdadeiras joias que calam fundo em nossos sentimentos. Assim foi quando o Edyr me presenteou com a melodia feita em cima da minha letra de “Grudando no coração” ou quando o Firmino me presenteou com a letra de “Estou aqui”.

Assim deve ter sido quando o Tom Jobim presenteou o cantor e pianista Dick Farney com uma música que compôs pensando em sua voz e que lhe foi dada, ao vivo, no programa Dick Farney show, com a recomendação de ele fosse o primeiro a gravar, como o próprio Dick, de saudosa memória, contou em um programa da TV Cultura em 1972.

A música do Tom começava assim: “Esse seu olhar, quando encontra o meu, fala de umas coisas que eu não posso acreditar...”. A letra do Tom ressaltava que muitas vezes apenas com um olhar pode-se dar um recado, nem sempre entendido por quem vê.

Alguns puristas diriam que olhos não falam. Mas, nós todos sabemos que muitas vezes apenas um olhar pode transmitir um recado. E o maestro, pra confirmar que esse recado, mesmo que tenha sido bem dado, nem sempre pode ser bem entendido, terminou a música com “Ah se eu pudesse entender o que dizem os teus olhos.”

Compreendo com certeza que muitas vezes, até que bem frequentemente, nossos sentidos podem ser trocados, falando-se com olhos, escutando-se com cheiros que lembram canções e assim por diante.

O que ocorre, como disse o Antonio Brasileiro, é que nem sempre as pessoas são capazes de entender estes sinais, embora por vezes sejam tão claros...

Aproveitando a deixa, fiz uma canção que evidencie tanto a facilidade de trocar a função natural dos nossos sentidos, quanto a dificuldade de saber entender esses sinais, assim como a persistência de continuar tentando.

ÍNVIO (BEM QUE TENTEI)

(Almir Morisson)

Só vejo teu cheiro,

Só cheiro tua voz,

Escuto teus olhos

Dizendo te amo

Mas vejo não falam

Só olham calados

Mirando meus olhos

De longe, sem vê-los

Tentei te dizer

Tentei exprimir

Tentei me chegar

Tentei conduzir

Fiz tudo o que pude

Mas não consegui

Aumento o volume

Do meu pensamento

Na doce esperança

Que você escute

Inda que de leve

Só por um momento

Mas nada acontece

Mais nada me acalma

Pois mesmo sabendo

Que nada te alcança

Que nunca me escutas

Meu peito não esquece

Não sais da minh’alma

Não perco a esperança

Ananindeua 08/01/2018 (letra)

03/09/2019 (música)

Como primeiro título coloquei “Inalcançável”. Achei uma palavra muito longa e procurei um título mais conciso e achei “Ínvio”, mais elegante, porém com a dificuldade de muita gente não saber que significa, semelhantemente ao que ocorreu com uma outra composição minha que chamei de “Anelo” e que também vai dar trabalho para o Aurélio explicar o que é.

Para que alguns leitores não tenham esse trabalho digo logo que:

Ínvio – de impossível acesso.

Anelo – desejo intenso.

Aos mais cultos, ou aos que, como eu, gostam de palavras cruzadas, peço que me desculpem pela explicação desnecessária.

Para encurtar a confusão, acabei trocando o título para “Bem que tentei...”. Satisfaz todos os gostos.

Levei quase dois anos para musicar a letra, mas acho que ficou legal.