Ensinar não é tudo

É claro que ensinar é importante, mas realmente não é tudo. O aprendizado que o ensino proporciona é que passa a ser o mais relevante. E isso é algo que, por mais eficaz que seja o professor em seu ofício, ele nunca terá a certeza de como o que está ensinando vai repercutir como aprendizagem em seus alunos.

Uma pergunta sempre presente na mente dos bons professores é como agir no seu ato de ensinar para se ter um mínimo de garantia que a sua informação vai ser bem recebida, gerando os tão esperados frutos da aprendizagem. Tudo acontece de forma muito parecida ao que se deu na parábola do semeador, que é descrita em alguns evangelhos como um dos ensinamentos de Jesus Cristo aos seus seguidores. O semeador saiu a semear, mas o resultado do seu trabalho dependeu dos locais em que essas sementes caíram. Com o ensino, não é muito diferente. O que é ensinado, poderá ou não ser aprendido, dependendo de como esse ensinamento vai encontrar o aprendiz. Diz um dos teóricos desse assunto, David Ausubel, que o dado isolado mais importante que vai influir na aprendizagem de uma pessoa, é o conhecimento anterior que ela tem. É como se fosse a qualidade da terra em que ela vai cair. Se for boa, bem adubada e preparada para receber a semente, esta vai germinar e se desenvolver. Caso contrário será mais uma semente perdida.

Ensina a pedagogia que a aprendizagem ocorre em três diferentes domínios: o cognitivo, o psicomotor e o afetivo. O primeiro deles traz como tipo de aprendizagem o conhecimento, o segundo, a habilidade e o terceiro, a atitude. Em outras palavras você passa da ignorância ao conhecimento, no nível cognitivo, (saber que) da potencialidade ao ato, no psicomotor (saber como fazer e poder fazer) e da predisposição à atitude, na área afetiva (querer fazer). Observem que é especialmente nessa última área que as mudanças acontecem. E aprendizagem, num primeiro momento, é definida como mudança de comportamento já que de nada adianta que as pessoas saibam das coisas, possam fazê-las, mas não se disponham a querer executá-las, alterando o comportamento. E aí aparece a importância de quem ensina.

O padre Antonio Vieira num dos seus mais famosos sermões, o da Sexagésima, diz que “o homem não se convence pela memória, senão pelo entendimento”. E adianta: “o que sai só da boca, pára nos ouvidos; o que nasce do juízo, penetra e convence o entendimento. Porque o que há de dizer o pregador, não lhe há de sair só da boca; há-lhe de sair pela boca, mas da cabeça.” A figura do professor, a credibilidade que ele passa por meio do exemplo que transmite, o entusiasmo com que se dirige ao grupo, tudo isso adquire um papel fundamental no ato de ensinar, contribuindo para a sua função precípua, que é o aprendizado. Semeando desse jeito, com as suas palavras saindo do coração, do seu entendimento, cresce a possibilidade de suas idéias germinarem e, tal como acontece na parábola do semeador, gerarem uma colheita de 100 vezes mais o que foi plantado. Mas aí já é outra história, o aprender a aprender.

Fleal
Enviado por Fleal em 20/10/2020
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