Diário de Bordo (Não se iludam: o final de uma maratona é sua etapa mais dificil.)

Diário de Bordo (Não se iludam: o final de uma maratona pode ser a etapa mais difícil.)

Finalmente uma chuva digna do nome está caindo nesta sexta-feira aqui em Pasárgada. Chove a bandeiras despregadas desde as dez horas da manhã de hoje; e chove muito, chove com gosto, com vontade de empapar a terra.

Antes da chuva começar a cair eu me decidi a finalmente dar inicio a retirada dos troncos para começar a reestruturar o casulo, e foi o que eu comecei a fazer até que fui surpreendido por grossas bagas de chuva chicoteando as minhas costas. Todavia, com a minha teimosia característica, só recolhi a motosserra após dar conta de retirar uma rodela de madeira, e dois pedaços grandes da árvore caida, de mais ou menos dois metro e e meio cada,, além de ter desbastado um monte de galhos em volta da área da tenda.

As rodelas de madeira (ainda falta mais uma...) foi um pedido feito pelo meu amigo Diego, para usar como suporte de mesa. Gostei tanto da ideia que vou tratar de produzir algumas aqui pra cabana também, visto que as mesmas são muito funcionais, perfeitas para se usar como tábuas de carnes, ou suportes de panelas.

No dia anterior, cuidei de limpar o caminho que passa pelo olho d'água, aproveitando para fazer uma coleta de gravetos secos, cortar alguns galhos mais fornidos para abastecer a cozinha, e carrear a minha cota diária de areia para os fundos e a lateral da cabana com vista para o Nascente, ainda recolhendo alguns litros de águada nova fonte.

Na quarta-feira, anteontem, saí da toca e fui até a Vila de Olivença, passando pela Vila Cheiro prá dar o ar da graça pro povo de lá, pois fiquei uma semana sem por lá aparecer, fato que os deixa preocupados.

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E, no ritmo dessa maré mansa, uma hora lendo o frade monarquista, outra assistindo um vídeo aqui, outro acolá, me cai diante dos olhos no início da noite de ontem, um documentário sobre a preparação dos atletas gregos antigos, e no bojo desse documentário a história, meio real, meio lenda, de Pheidipedis, o mítico precursor das corridas de maratona.

Não tenho certeza se a maioria de quem me lê sabe que este escriba tem um histórico de mais de dez anos como fundista, e algumas maratonas concluídas no currículo...

Pois muito bem, pibes y chicas. Este sertanejo aqui, acostumado às longas caminhadas desde a infância, aprendeu na pele que os cento e noventa e cinco metros finais de uma maratona, caso esta não seja bem planejada, podem se tornar a parte mais difícil da competição.

Para exemplificar: na melhor maratona que eu corri, em Blumenau/SC (1995) passei a marca dos 21 km com 1h18 de tempo corrido, razoavelmente dentro do planejado. Contudo, quando vi a marca dos 38 km, o meu tempo já havia caído uns cinco minutos, e contar os quatro quilômetros finais foi uma longa e árdua batalha de superação para mim.

Resumindo: conclui a dita maratona em 2h48,11, sendo os quase duzentos metros finais dela um intenso exercício de concentração e determinação que servem de balizamento na vida para todos os meus projetos.

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(Como diria o meu frade franciscano oitocentista, soturnamente: "é nos detalhes que o diabo faz a morada.")

Terras de Olivença, tarde de sexta-feira, início do Crescente lunar deste mês de Outubro de 2020, um ano marcado pela pandemia do Covid-19.

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 24/10/2020
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