O gato. Liberdade.
Liberdade. Hoje, ao subir a rampa de acesso ao metrô, meus olhos viram uma imagem de liberdade: um gato malhado de cinza e preto, caminhando com propriedade felina, calmamente sobre os trilhos.
Enquanto corríamos, eu e uma amiga, contra o tempo, ele fazia o inverso – mansamente ia enrolando aqueles minutos de fim de tarde. Foi um breve quadro contemplado, emoldurado no inesperado daquela situação. Não comentei nada para não quebrar o encanto.
O gato transmitiu naquele instante a mensagem do imediatismo, não aquele do viva freneticamente, curta todas e sim aquele que trata da experiência de viver neste momento o que a vida apresenta agora. O seu caminhar manso, magistralmente equilibrado sobre as vigas estreitas de ferro, de cabeça erguida, demonstrando vigor, levou-me a imaginar qual ação viria depois.
Talvez caminhasse de volta à casa, embora não parecesse domesticado, ou talvez estivesse faminto à procura de seu alimento. Não terei como saber.
Ele seguiu o seu caminho, sem pressentir a observação de que era objeto. Fui para o lado oposto, apressadamente. Os ponteiros percorrem com maior velocidade o tempo dos minutos quando queremos e precisamos que se detenham um pouco mais.
Estou presa em meu transporte, viajando de volta para casa – absorta com o cheiro exalado pelo pensamento de ser livre.
Seriam de que cor os olhos do gato?