Náufragos, ilhas e ninhos

Mais uma vez seus pensamentos pousaram nela. Perdera as contas das vezes em que raptara seus momentos mais íntimos fazendo-o sair da inércia, com mensagens sem nenhum conteúdo especial, apenas para materializá-la.

Refletia nos caminhos que o destino percorria para realizar seus desejos. Em como pessoas, separadas por décadas de história, adquiriam mais intimidade do que jamais imaginaram em apenas um dia e passavam a povoar os planos um do outro como se ali sempre estiveram.

Foi interrompido por uma mensagem dela, sem nenhum conteúdo especial, e respondeu alguma amenidade para se materializar em seus pensamentos também. O humor rápido e sagaz de ambos mantinha a conversa agradável e o desejo de alongá-la. Mas o sono é uma força poderosa e forçou-os a uma pausa para recarregarem as energias.

Em seu sonho foi visitado por um dos mais temidos deuses, o Destino, com quem dividiu algumas reflexões. Indagou-o se era possível que se equivocasse em seus desígnios, afinal, tantas histórias bonitas com finais infelizes. Ouviu como resposta que, no afã de controlar tudo, as pessoas interpretam seus sinais da forma como lhes convém e acabam por se autoflagelarem. É preciso aceitar o que Ele nos apresenta, pois em tudo há um propósito.

Mas isso não é crueldade? Retrucou.

Sois como náufragos. Quando alcançam a costa de uma ilha, empolgam-se e passam a explorar todos os seus cantos, vibrando a cada descoberta, perdendo-se na esperança de encontrar vida e acomodam-se com a solidão em meio à beleza, morrendo lentamente, sedentos de esperança, companheirismo e amor. Esse é o momento de partir ou sucumbir.

Mas como deixar a segurança de uma ilha deserta para encarar o oceano?

Por que acha que uma ilha deserta é segura? Cria-se uma uto-pia que precisa ser defendida até que seja crível. Vocês tentam se convencer que se bastam para serem felizes, mas a solidão é um fardo pesado demais. Cada ilha te prepara para a próxima até que encontre aquela que tem o necessário para se viver em abundância. E muitas vezes vocês passam em frente à sua ilha e a ignoram. Poucos têm a oportunidade de encontrá-la de novo e descobrir se ela tem tudo o que pre-cisa.

Perguntou-me se era crueldade, mas é o necessário. Cada lágrima, cada gota de sangue, cada casca de ferida são matérias-primas para a construção da jangada que nos levará à próxima ilha. E quando a ilha nos fornece sorrisos bobos, pensamentos flutuantes e brilho no olhar, não precisamos construir jangadas e sim um ninho.

Nesse momento ela invade seu sonho e interrompe sua conversa com o Destino. Ou terá sido ele a enviá-la, “em tudo há um propósito”. Pegou o celular e enviou uma mensagem:

Bom dia!